"'Que história é essa?', indagou Wren.
O velho hábito de negar
informações, em particular às jovens em que ele estava interessado no
momento, entrou em ação mais ou menos a essa altura. Uma vez, no
planalto de Uncompahgre, Frank, voltando a cavalo de Gunnison ou de
algum outro lugar, viu uma única nuvem de tempestade, escura e compacta,
a quilômetros de distância, e deu-se conta de que, apesar da
predominância do sol e da imensidão do céu, por mais que mudasse de
direção agora ia ter que cruzar com
aquela nuvem, e não deu outra, menos de uma hora depois ficou escuro
como se fosse meia-noite e ele ficou encharcado e congelado,
momentaneamente ensurdecido pelos trovões que explodiam a sua volta,
inclinado sobre o pescoço do cavalo para tranquilizar o animal, o qual,
por ser cavalo de rancho, já tinha visto coisas muito piores e estava
ele próprio tentando tranquilizar Frank. Agora, no Albany, Frank
percebia que Wren havia chegado exatamente ali após uma infinidade de
quilômetros e Passos da Cruz – na luz refletida pelo espelho enorme, seu
rosto, estranhamente sem sombras, estava azul-celeste, o rosto de uma
pessoa em busca de algo, foi o que pensou Frank, e que tinha vindo até
ali para lhe fazer a pergunta que ele estava menos disposto a responder.
Frank compreendia que havia presenças assim espalhadas pelo mundo, e
que, embora fosse possível viver uma vida inteira sem cruzar com uma
delas, se isso acontecesse era uma obrigação das mais sérias responder a
ela."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 284
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