segunda-feira, 11 de julho de 2016

Tempestade


"'Que história é essa?', indagou Wren.

O velho hábito de negar informações, em particular às jovens em que ele estava interessado no momento, entrou em ação mais ou menos a essa altura. Uma vez, no planalto de Uncompahgre, Frank, voltando a cavalo de Gunnison ou de algum outro lugar, viu uma única nuvem de tempestade, escura e compacta, a quilômetros de distância, e deu-se conta de que, apesar da predominância do sol e da imensidão do céu, por mais que mudasse de direção agora ia ter que cruzar com aquela nuvem, e não deu outra, menos de uma hora depois ficou escuro como se fosse meia-noite e ele ficou encharcado e congelado, momentaneamente ensurdecido pelos trovões que explodiam a sua volta, inclinado sobre o pescoço do cavalo para tranquilizar o animal, o qual, por ser cavalo de rancho, já tinha visto coisas muito piores e estava ele próprio tentando tranquilizar Frank. Agora, no Albany, Frank percebia que Wren havia chegado exatamente ali após uma infinidade de quilômetros e Passos da Cruz – na luz refletida pelo espelho enorme, seu rosto, estranhamente sem sombras, estava azul-celeste, o rosto de uma pessoa em busca de algo, foi o que pensou Frank, e que tinha vindo até ali para lhe fazer a pergunta que ele estava menos disposto a responder. Frank compreendia que havia presenças assim espalhadas pelo mundo, e que, embora fosse possível viver uma vida inteira sem cruzar com uma delas, se isso acontecesse era uma obrigação das mais sérias responder a ela."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 284

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