sábado, 30 de julho de 2016

A missão de Reef

"Reef estava sozinho no vagão para fumantes, em alguma hora de treva sem nome, quando uma presença não completamente opaca surgiu no banco estofado em frente ao seu.

'O que é que você tinha na cabeça?', perguntou. Era uma voz que Reef jamais ouvira, mas que ele reconheceu assim mesmo.

'Como assim?'

'Você tem mulher e filho pra cuidar, um pai pra vingar, e no entanto está aí, usando um terno que não foi você que pagou, fumando charutos cubanos que normalmente você nem saberia como encontrar, e muito menos teria como comprar, na companhia de uma mulher que nunca teve um pensamento que não se originasse entre as pernas dela.'

'Nada de rodeios, não é?'

'Porra, o que aconteceu com você? Você era um jovem dinamitador promissor, filho de seu pai, tinha jurado alterar a situação social, e agora você não é muito melhor que as pessoas que antes você queria explodir. Olhe para elas. Excesso de dinheiro e tempo de lazer, e falta de compaixão, Reef.'

'Eu fiz jus a isso. Já cumpri meu turno.'

'Mas você nunca vai merecer o respeito dessas pessoas, elas não vão sequer lhe conceder credibilidade. Vai ser só desprezo, mesmo. Tire da sua cabeça todas essas babaquices alegres e tente se lembrar pelo menos de como o Webb era. Depois volte seus pensamentos pro homem que mandou assassiná-lo. Scarsdale Vibe é um alvo fácil no momento. Scarsdale Vibe, o homem do <>. Vá atrás dele quando você estiver em Veneza. Melhor ainda, faça pontaria nele. Pare com essa fodelança vazia, dê meia-volta e volte a ser quem você era.'"

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 666

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