"Reef estava sozinho no vagão para fumantes, em alguma hora de treva
sem nome, quando uma presença não completamente opaca surgiu no banco
estofado em frente ao seu.
'O que é que você tinha na cabeça?', perguntou. Era uma voz que Reef jamais ouvira, mas que ele reconheceu assim mesmo.
'Como assim?'
'Você tem mulher e filho pra cuidar, um pai pra vingar, e no entanto
está aí, usando um terno que não foi você que pagou, fumando charutos
cubanos que normalmente você nem saberia como encontrar, e muito menos
teria como comprar, na companhia de uma mulher que nunca teve um
pensamento que não se originasse entre as pernas dela.'
'Nada de rodeios, não é?'
'Porra, o que aconteceu com você? Você era um jovem dinamitador
promissor, filho de seu pai, tinha jurado alterar a situação social, e
agora você não é muito melhor que as pessoas que antes você queria
explodir. Olhe para elas. Excesso de dinheiro e tempo de lazer, e falta
de compaixão, Reef.'
'Eu fiz jus a isso. Já cumpri meu turno.'
'Mas você nunca vai merecer o respeito dessas pessoas, elas não vão
sequer lhe conceder credibilidade. Vai ser só desprezo, mesmo. Tire da
sua cabeça todas essas babaquices alegres e tente se lembrar pelo menos
de como o Webb era. Depois volte seus pensamentos pro homem que mandou
assassiná-lo. Scarsdale Vibe é um alvo fácil no momento. Scarsdale Vibe,
o homem do <>. Vá atrás dele quando você estiver em
Veneza. Melhor ainda, faça pontaria nele. Pare com essa fodelança vazia,
dê meia-volta e volte a ser quem você era.'"
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 666
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