"Clarice Lispector é traduzida e estudada no Brasil e fora dele. Seus
livros tornaram-se universais porque é universal a sua angústia, a sua
maneira de refletir o revés do espelho. Do livro de contos 'Laços de
família': 'A vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo
moralmente louco de viver'. Qualquer um de nós, num exercício de livre
pensar, concordará que as regras impostas pela sociedade, a obediência
servil, a lobotomia autorizada com que conduzimos nossas vidas, tudo isso é muito mais demente do que seguir os seus próprios instintos e tentar iluminar o breu que há dentro de nós. [...]
Saber onde fica o norte e o sul, saber se amanhã vai chover, saber a
parada do ônibus em que devemos saltar, tudo isso nos dá a falsa
sensação de estarmos protegidos. No entanto, estaremos sempre em perigo
enquanto soubermos tão pouco sobre nós mesmos. Clarice Lispector, em sua
literatura de auto-investigação, entendeu-se dentro do possível e
aceitou-se no impossível."
Martha Medeiros. Trem-bala. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 130-1
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