sexta-feira, 22 de julho de 2016

Clarice

"Clarice Lispector é traduzida e estudada no Brasil e fora dele. Seus livros tornaram-se universais porque é universal a sua angústia, a sua maneira de refletir o revés do espelho. Do livro de contos 'Laços de família': 'A vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver'. Qualquer um de nós, num exercício de livre pensar, concordará que as regras impostas pela sociedade, a obediência servil, a lobotomia autorizada com que conduzimos nossas vidas, tudo isso é muito mais demente do que seguir os seus próprios instintos e tentar iluminar o breu que há dentro de nós. [...]

Saber onde fica o norte e o sul, saber se amanhã vai chover, saber a parada do ônibus em que devemos saltar, tudo isso nos dá a falsa sensação de estarmos protegidos. No entanto, estaremos sempre em perigo enquanto soubermos tão pouco sobre nós mesmos. Clarice Lispector, em sua literatura de auto-investigação, entendeu-se dentro do possível e aceitou-se no impossível."

Martha Medeiros. Trem-bala. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 130-1

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