“O mundo proclamou a liberdade, sobretudo ultimamente, e eis o que
vemos dessa liberdade deles: só escravidão e suicídio! Porque o mundo
diz: ‘Tens necessidades e por isso satisfaze-as, porque tens os mesmos
direitos que os homens mais ilustres e ricos. Não temas satisfazê-las e
até procura multiplicá-las' – eis a atual doutrina do mundo. É nisso que
veem a liberdade. E o que resulta desse direito à multiplicação das
necessidades? Para os ricos o isolamento e o suicídio espiritual,
para os pobres, a inveja e o assassinato, porquanto esses direitos
foram concedidos mas ainda não se indicaram os meios de satisfazer as
necessidades. Asseguram que, quanto mais tempo passar, mais o mundo irá
unir-se, irá constituir-se num convívio fraterno porque isso reduz as
distâncias, transmite as ideias pelo ar. Ai, não credes nessa união dos
homens.
Compreendendo a
liberdade como a multiplicação e o rápido saciamento das necessidades,
deformam sua natureza porque geram dentro de si muitos desejos absurdos e
tolos, os hábitos e as invenções mais disparatadas. Vivem apenas para
invejar uns aos outros, para a luxúria, a soberba. Dar jantares, viajar,
possuir carruagens, posição social e criados escravos eles já
consideram uma necessidade, e para saciá-la sacrificam até a vida, a
honra, o amor ao homem, e até se matam se não conseguem saciá-la. Vemos a
mesma coisa naqueles que não são ricos, e entre os pobres o não
saciamento das necessidades e a inveja ainda são abafados pela
bebedeira. Em breve, em vez do vinho haverão de embebedar-se com sangue,
para isto estão sendo conduzidos.
Eu vos pergunto: esse homem é livre?”
Fiodor Dostoievski (1821-1881). Os irmãos Karamázov (1880). 2ª parte - Livro VI: Um monge russo
Eu vos pergunto: esse homem é livre?”
Fiodor Dostoievski (1821-1881). Os irmãos Karamázov (1880). 2ª parte - Livro VI: Um monge russo
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