segunda-feira, 11 de julho de 2016

Onde não deveria estar

"Ele que, em circunstâncias normais, era uma pessoa cheia de bom senso, naquela incandescência sem alma sentiu-se invadido de todos os lados por presságios de violência, todos dirigidos a ele. Barbas que havia semanas não tinham contato com navalhas de aço, caninos amarelados expostos, olhos avermelhados por algum desejo incontrolável... Suando de apreensão, Frank se deu conta de que estava justamente onde não deveria estar. Em desespero, olhou para trás, em direção à estação, mas o trem já estava lentamente descendo o vale outra vez, a ré. Querendo ou não, agora ele fazia parte daqueles que seguem sua intuição diretamente até o fundo de um barril e o final de uma fila, apertados contra aquela muralha de montanhas de quatro mil e duzentos metros de altura, e um nível de ódio entre o sindicato dos mineiros e os proprietários de minas, perigosamente alto mesmo para o Colorado, que dava até para cheirar."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 288

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