"Ele que, em circunstâncias normais, era uma pessoa cheia de bom
senso, naquela incandescência sem alma sentiu-se invadido de todos os
lados por presságios de violência, todos dirigidos a ele. Barbas que
havia semanas não tinham contato com navalhas de aço, caninos amarelados
expostos, olhos avermelhados por algum desejo incontrolável... Suando
de apreensão, Frank se deu conta de que estava justamente onde não
deveria estar. Em desespero, olhou para trás, em direção à estação,
mas o trem já estava lentamente descendo o vale outra vez, a ré.
Querendo ou não, agora ele fazia parte daqueles que seguem sua intuição
diretamente até o fundo de um barril e o final de uma fila, apertados
contra aquela muralha de montanhas de quatro mil e duzentos metros de
altura, e um nível de ódio entre o sindicato dos mineiros e os
proprietários de minas, perigosamente alto mesmo para o Colorado, que
dava até para cheirar."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 288
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