domingo, 27 de junho de 2010

A man saw a ball of gold in the sky

A man saw a ball of gold in the sky;
He climbed for it,
And eventually he achieved it --
It was clay.

Now this is the strange part:
When the man went to the earth
And looked again,
Lo, there was the ball of gold.
Now this is the strange part:
It was a ball of gold.
Aye, by the heavens, it was a ball of gold.

Stephen Crane (1871-1900)

Clay = barro

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um Sopro de Destruição

"As consequências sociais, econômicas e políticas da devastação das florestas, erosão e esgotamento dos solos, degradação do clima, extinção das espécies animais e vegetais. Pauta do dia? Sim - desde 1786.

Muito antes do que se costuma imaginar, já se discutia no Brasil, de forma consistente e criativa, a destruição do meio ambiente. Analisando cerca de 150 textos de época, produzidos por mais de 50 autores, este livro reconstitui pela primeira vez, de maneira lúcida e abrangente, um capítulo fascinante e praticamente esquecido na história do pensamento social brasileiro: a crítica ambiental nos séculos XVIII e XIX.

Nomes como José Bonifácio, Joaquim Nabuco, Baltasar da Silva Lisboa e Francisco Freire Alemão, entre vários outros, dedicaram-se ao debate ambiental. E - ainda mais espantoso - muitos perceberam que a superação das práticas devastadoras, a partir de um esforço consciente de modernização tecnológica, passava necessariamente pela implementação de reformas socioeconômicas profundas, que rompessem com o legado do colonialismo: o tripé escravidão-latifúndio-monocultura.

Destruir matos virgens, ... e sem causa, como até agora se tem praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feito à natureza. Que defesa produziremos no Tribunal da Razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?

A pergunta que José Bonifácio se fez em 1821 vale ainda hoje. Um sopro de destruição nos permite identificar a origem de inúmeros problemas que persistem no país, funcionando como um alerta para a profundidade e urgência da questão ambiental no Brasil". (Orelha do livro).

José Augusto Pádua, Um Sopro de Destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). 2 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Solenidade de (des)formatura


Jorge Ferreira S. Filho

Em recente artigo, publicado no jornal “Hoje em Dia”, o ex-reitor da UFMG, Aloísio Pimenta, teceu considerações sobre a banalização que tomou conta das solenidades de colação de grau. Indistintamente, atos públicos de formatura de engenheiros, médicos, arquitetos e até de advogados, estão se transformando em algo que mais parece um ensaio de escola de samba que uma solenidade. Apitos, cornetas, conversas, gritos e tambores dominam o espaço e o tempo do evento de formaturas.

Ao que parece, não se trata de casos isolados, pois excetuando-se as solenidades de formatura nas escolas militares (IME, ITA, Academia Naval, Agulhas Negras, CFO, etc.) e nas instituições eclesiásticas, a “bagunça” se generalizou.

Paraninfos, homenageados, patronos e autoridades discursam sabendo que ninguém presta ou pode prestar atenção às suas palavras. O barulho é ensurdecedor e não raras são as deseducadas manifestações da platéia – “kabou”, “chega”, “cala a boca” – no sentido de abafar ou inibir aquele que, ingenuamente, pretende transmitir uma mensagem, ensinar, contribuir, formar uma pessoa, por meio do conteúdo de seu discurso.

O total desprezo pela forma tradicional que se adotava para a colação de grau no Brasil, se configura hoje, como diria Émile Durkhein, um “fato social”. Isso significa a constatação da existência de “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo”, caracterizadas por um forte poder coercitivo, da massa de pessoas presentes na solenidade, sobre o comportamento de cada pessoa isoladamente considerada.

Instiga-me perguntar: o fenômeno seria universal ou meramente brasileiro? Aloísio Pimenta, no artigo supra referido, comenta que seus quatro filhos graduaram-se em universidades norte-americanas e suas formaturas foram atos solenes. Disse ainda o ilustre ex-reitor que a responsabilidade pela banalização do ato de colação de grau recai também sobre a autoridade universitária. “Solenidades de formatura representam uma marca da mais alta importância cívica, ética e, inclusive, legal, para todos que participam destes eventos, do mais alto nível social e cultural”, lembra.

Concordo totalmente com Aloísio Pimenta, mas não acredito que este nosso posicionamento – ou manifestação de inconformismo – seja compartilhado pela maioria da sociedade. Fenômenos sociais merecem variadas leituras e interpretações. Por isso, lanço-me numa incursão para verificar como a Antropologia percebe o fenômeno “rito”.

Mariza Peirano, pesquisando sob a tutela da David Rockfeller Center for Latin American Studies, concluiu que, independentemente do tempo e do lugar, a vida social sempre foi marcada por rituais. Trata-se de uma ilusão pensar que o rito seja um fenômeno do passado e que dele estejamos, hoje, liberados. Rituais são instrumentos válidos, eficazes e eficientes para transmitir valores e conhecimentos. São adequados também para reproduzir as relações sociais. Ritual, na concepção do antropólogo Stanley Tambiah, “é um sistema cultural de comunicação simbólica”. Por isso, quando o rito passa a ser a dessacralização do próprio rito – o anti-rito – o fenômeno sinaliza que caminhamos para uma sociedade sem valores, ou seja, sem uma referência ou discussão sobre como nossa sociedade é ou gostaria de ser.

Perder referências aos valores significa também dizer que não há mais o certo ou o errado; tudo pode. O político pode mentir; o aluno pode colar grau, ainda que nada saiba ou que tenha conseguido terminar seu curso sistematicamente “colando”.

As Faculdades, instituições tradicionalmente havidas como responsáveis pela transmissão do legado cultural da humanidade às novas gerações, ou seja, instrumentos de formação das pessoas como cidadãos aptos à moderna sociedade democrática de direito, capitulam-se diante da difícil tarefa de formar – construir uma pessoa – e se transformam em meros transmissores de informações; informam, mas não formam.

Talvez, quando familiares, convidados, professores e colegas passam a admitir como normal o “carnaval” que se verifica nas “solenidades” de formatura, estejam, também, declarando que: não acreditam em nada relacionado com a finalidade da cerimônia; meu filho, que hoje forma, nada sabe; meu colega, que ora cola grau, passou colando; qualquer um hoje pode obter um diploma, sem nunca ter comprado ou lido um livro didático.

Raramente se nota um efetivo compromisso com o ensinar (formar e transmitir valores) nas escolas de ensino superior. Diretores e coordenadores de cursos, com raras exceções, apresentam-se hoje como simples instrumentos de viabilização do negócio – atividade econômica – em que se tornou o ensino superior. O aluno passou a ser um consumidor – um centro de direitos. O professor transformado num “Sílvio Santos” – aquele que deve agradar a platéia; dar à platéia o que ela quer e não o que ela precisa receber.

Não se pode, entretanto, permitir que essa leitura dos fatos nos mergulhe no mar do pessimismo. Ao contrário, o fato serve de alerta e sinalização à sociedade para envidar esforços no sentido de corrigir estes rumos, sob pena de se “desconstruir” a sociedade democrática de direito que almejamos alcançar.

Jorge Ferreira S. Filho é advogado, Mestre em Direito pela Universidade Gama Filho /RJ e membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM; Integrante do Instituto dos Advogados de Minas Gerais – IAMG e Secretário Geral da 72ª Subseção da OAB – Seção Minas Gerais.

Richelieu and Olivares

Leitura fascinante! Um estudo biográfico comparativo de dois dos maiores estadistas europeus do século XVII, grandes defensores do Absolutismo Monárquico:

Armand Jean du Plessis, Cardeal Richelieu (1585-1642): primeiro-ministro do rei francês Luís XIII de 1628 a 1642.

Gazpar de Guzmán y Pimentel Ribera Velasco e Tovar, Conde-duque de Olivares (1587-1645): primeiro-ministro do rei espanhol Filipe IV de 1621 a 1643.

It was in their fierce determination to control and reshape the world to their image through every instrument at their disposal, including that of language, that Richelieu and Olivares - in many respects so different - came together as one. But there is something paradoxical about this determination. Living, as Richelieu said, in a corrupt age when men were unwilling to be led by reason; sharing an instinctive pessimism about men and events; aware that some sudden contingency could make the best-laid plans go awry; they fought for power with a tenacity born of the optimistic conviction that they could somehow use it to transform the world. Dangerous men, perhaps, but these were dangerous times. (p.31)

J. H. Elliot, Richelieu and Olivares. NY: Canto edition, 1991.

terça-feira, 15 de junho de 2010

A queda de José Bonifácio

"(...) podemos vislumbrar o espírito que prevalecia na mente daquele estadista-filósofo, tantas vezes comparado aos founding fathers norte-americanos, nos gloriosos anos de 1821 e 1822, quando os horizontes que se abriam para a construção de um Brasil independente e próspero pareciam vastos e luminosos. As dinâmicas políticas posteriores, no entanto, abortaram todos os seus projetos. Em julho de 1823 ele foi forçado a abandonar o ministério. Em novembro do mesmo ano foi preso e exilado na França, onde permaneceu até 1829. A elite dos grandes proprietários, que constituía a base do poder econômico e político, não estava disposta a acompanhá-lo em seus propósitos de extinguir a escravidão, dividir as propriedades e combater a rotina predatória e lucrativa da monocultura exportadora. Esse foi o motivo profundo da sua queda, muito mais do que os conflitos conjunturais e intrigas políticas em que se envolveu. É verdade que a sua prepotência no exercício do poder, somada à incapacidade para estabelecer acordos e alianças, contribuiu para sua derrota política. Bonifácio era fundamentalmente um intelectual, que tentou exercer o governo com a mesma impetuosidade com que participava dos debates acadêmicos. O seu desprezo por ostentações de riqueza, títulos de nobreza e artificialismos de etiqueta, além disso, provocou desavenças com a elite da monarquia emergente. Mas tudo isso é relativamente secundário diante da ameaça que o seu projeto quase revolucionário de mudança social e ambiental colocava para essa mesma elite". (p. 158)

José Augusto Pádua, Um Sopro de Destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

sábado, 12 de junho de 2010

A Morte

A morte aparece
sem fazer ruído.

Senta-se num canto
fica indiferente
com seu ar de calma
absoluta.
Mira longamente
o quarto o retrato
a cama os remédios
postos entre os livros
sobre a mesa escura.

Depois se levanta
sem nenhuma pressa
sem impaciência
retorna ao seu mundo
a morte, de gestos
claros e serenos.

H. Dobal (1927-)

Imagem: "O Leito da Morte", de Edvard Munch

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Liderança não é gerência

Gosto de começar meus seminários de liderança com a seguinte declaração: "Sempre parto do pressuposto que todos vocês são excelentes gerentes, possuem uma sólida competência técnica e são eficientes na realização de suas tarefas. Por isso, antes mesmo de começarmos, vou dar nota dez em habilidades gerenciais para cada um de vocês. Tudo indica que vocês possuem todas as chances de assumir posições de liderança. Mas, se virem até aqui para ouvir sugestões para serem gerentes melhores, devo dizer que estão na sala errada. Nós estamos aqui para falar sobre liderança, não sobre gerência".

Planejamento, orçamento, organização, solução de problemas, controle, manutenção da ordem, desenvolvimento de estratégias e várias outras coisas - gerência é o que fazemos, liderança é quem somos.

Conheço ótimos gerentes que naufragaram quando se viram diante da tarefa de liderar pessoas, inspirando-as a fazerem grandes coisas. O inverso é verdadeiro. Muitos líderes eficientes são gerentes sofríveis, como o provam Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt e Ronald Reagan. Eles não entraram para a história por serem considerados "bons gerentes".

O estilo que caracteriza o "bom gerente" é, em geral, autoritário e centralizador. Sim, muitos acreditam erroneamente que um gerente eficiente deve ter todas as respostas, resolver todos os problemas e, acima de tudo, manter o controle.

Quando recebem algum treinamento de liderança, o foco é sempre voltado para o lado operacional. Ou seja: tem o objetivo de tornar as pessoas capazes de administrar coisas, não o de fazer com que liderem e inspirem as outras à ação.

As habilidades técnicas orientadas para o resultado que levaram muitos gerentes a posições de liderança não são exatamente as melhores ferramentas para inspirar os outros a fazerem um bom trabalho.

Liderar significa conquistar as pessoas, envolvê-las de forma que colquem seu coração, mente, espírito, criatividade e excelência a serviço de um objetivo. É preciso fazer com que se empenhem ao máximo na missão, dando tudo pela equipe.

Você não gerencia pessoas. Você lidera pessoas. (p. 19-20)

(...)

Quando se está numa posição de liderança, a medida do sucesso muda. Os esforços realizados para agir da forma certa, os depósitos em contas bancárias emocionais, o empenho em ensinar, treinar e estimular as pessoas - tudo isso pode demorar a dar frutos.

Essa é uma situação que pode ser muito frustrante para quem está acostumado a ter uma gratificação imediata, com direito a resultados quantificáveis no final do dia. (p. 36).

(...)

Minha mãe podia me pedir para fazer qualquer coisa, e eu não pensava duas vezes a respeito. Lembro que ela não tinha mais poder algum sobre mim - eu podia correr mais depressa do que ela, agora que era adulto. Mas mamãe tinha muita autoridade. De onde ela tirou sua autoridade? Que seminário sobre habilidades de supervisão ela cursou? A verdade é que mamãe sempre serviu. Eu faria qualquer coisa por ela. (p.38).

(...)

Poder é a capacidade de obrigar, por causa de sua posição ou força, os outros a obedecerem à sua vontade, mesmo que eles preferissem não fazê-lo. Weber, em sua definição básica de poder, diria: "Faça isso, senão vai ver!"

O raciocínio é o seguinte: se eu tenho a habilidade de derrotá-lo, bombardeá-lo, espancá-lo ou despedi-lo, posso forçá-lo a obedecer à minha vontade.

Autoridade é muito diferente de poder, já que ela envolve a habilidade de levar os outros a fazerem - de bom grado - sua vontade. Na visão de Weber, a definição de autoridade seria: "Farei isso por você".

Outra maneira de observar a diferença entre autoridade e poder é a seguinte: O poder pode ser comprado e vendido, dado e tirado. Ou seja: laços de parentesco ou amizade realmente conseguem colocar uma pessoa numa posição de poder, mas isso já não acontece com a autoridade - ela é a essência da pessoa, está ligada a seu caráter. (p.32).

James C. Hunter, Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.