quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

20 filmes inesquecíveis

Desde 1986, quando meu pai comprou nosso primeiro videocassete, eu sou fanático por cinema e vídeo. Mas foi só no dia 20 de maio de 1996 que eu comecei a registrar e a classificar cada filme que eu assistia. A minha lista hoje tem 350 títulos, e após uma análise rigorosa de cada um, selecionei aqueles 20 que mais fundo tocaram minha alma. São eles:

Cidade de Deus (brasileiro)
A vida dos outros (alemão)
A excêntrica família de Antônia (holandês/belga/inglês)
Morango e chocolate (cubano)
Fanny e Alexander (sueco)
Kolya (tcheco)
Festa de família (dinamarquês)
Tudo sobre minha mãe (espanhol)
Beleza americana (norte-americano)
The Doors (norte-americano)
Igual a tudo na vida (norte-americano)
A Festa de Babette (dinamarquês)
Hannah e suas irmãs (norte-americano)
Volver (espanhol)
Match Point (norte-americano/inglês)
Frida (norte-americano)
Plata quemada (argentino)
The Edukators (alemão)
Assassinato em Gosford Park (inglês)
Transamérica (norte-americano)

Os 20 filmes

Going to Lisbon

To improve my listening, I watch Friends. Actually it’s a kind of vice, a very strong habit. Everyday I watch this show. It’s about a group of friends of different personalities and their life together, their problems…And it’s great, because I feel as if I was there with them! I know everyone; I suffer and laugh with them. It’s fantastic! Today I can understand almost everything in English, even the News at BBC and CNN. Douglas said I should try a travel scholarship to go to USA. I don’t know. I think I’ll try to go to Portugal, where I could stay for some months doing my research.
That’s it: I’m going to Lisbon.

Belo Horizonte, february 21, 2000

Batman, o cavaleiro das trevas

Não pensei que fosse gostar, mas gostei.
Muito bom mesmo!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Briga no beco

Encontrei meu marido às três horas da tarde
com uma loura oxidada.
Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.
Ataquei-os por trás com mãos e palavras
que nunca suspeitei conhecer.
Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,
gritei meu urro, a torrente de impropérios.
Ajuntou gente, escureceu o sol,
a poeira adensou como cortina.
Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,
sem me reter, peixe-piranha, bicho pior,
[fêmea-ofendida,
uivava.
Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.
Quando não pude mais fiquei rígida,
as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,
eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,
as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo
[ graças.
Desde então faço milagres.

Adélia Prado (Bagagem, 1976)

domingo, 28 de dezembro de 2008

E agora?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

Last Orders

Excelente! Sofisticada produção inglesa com interpretações memoráveis. Vale a pena assistir. Traduzido no Brasil como "O Último Adeus" (nada a ver...)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Transamerica

Filme excepcional! Recomendo, recomendo, recomendo...

Os dez melhores mistérios de Agatha Christie

Morte na praia (1941)
O Natal de Poirot (1938)
Os cinco porquinhos (1943)
Treze à mesa (1933)
Por que não pediram a Evans? (1934)
Morte no Nilo (1937)
Depois do Funeral (1953)
A testemunha ocular do crime (1957)
O caso dos dez negrinhos (1939)
Convite para um homicídio (1950)

Da mesma autora, recomendo também
:

Morte na Mesopotâmia (1936)
O Mistério do trem azul (1928)
Morte nas nuvens (1935)
Uma dose mortal (1940)
Hora zero (1944)
Um corpo na biblioteca (1942)
Um passe de mágica (1952)
Cem gramas de centeio (1953)
A Terceira Moça (1966)
O Mistério de Sittaford (1931)
A casa do penhasco (1932)
Um crime adormecido (1976)
Um brinde de cianureto (1945)
Seguindo a correnteza (1948)
A extravagância do morto (1956)
Punição para a inocência (1958)
A Noite das Bruxas (1969)

Comecei a ler Agatha Christie aos 13 anos e não parei mais. Li e reli seus mais de 80 livros várias vezes, primeiro em português, depois em inglês, francês e espanhol (com a desculpa de estar estudando línguas estrangeiras), sempre com muito prazer. As duas listas acima apresentam os títulos que, na minha opinião, são realmente os melhores.

Considerações à hora do jantar

Manoel: Isso lá é vida? Trabalhar o dia inteiro, chegar em casa, jantar e assistir televisão. Ah, se não fosse o faroeste... Chego aqui caindo aos pedaços, janto um arroz com feijão que vejo há quase vinte anos e ainda tenho de ouvir as reclamações dessas duas como se eu fosse Deus e pudesse melhorar a vida delas. Humpf... não consigo melhorar nem a minha... Se pudesse, começava caindo fora daquele emprego de merda, que só me enche o saco. O dia todo vendo o torno cuspir peças, uma atrás da outra, que só servem para enriquecer “seu” Armando e deixar alguns parvos contentes. E não é que os palhaços ainda saem da fábrica contando piadas e rindo? Como conseguem?

Isabel: Pela cara do Manoel já posso adivinhar que teve um dia de cachorro. Mais um, para variar. Quem vive há tanto tempo com um homem percebe até nos mínimos gestos quando as coisas não vão bem. Como agora: do jeito que ele fica empurrando o feijão e o arroz, pra lá e pra cá, já sei que está de cabeça quente. Nem vou perguntar; melhor deixar do jeito que está.

Neusinha: Ah, se eu pudesse cair fora desta casa, morar sozinha... Mas quem é que vai meter na cabeça dessas duas múmias a idéia de eu viver por minha conta? Se eu falasse nisso, o velho ia me encher de porrada, “filha a gente cria pra arranjar um bom marido e constituir família”, e estufa o peito quando diz isso. Está crente que é o dono da verdade, que mulher é pra prendas domésticas. Que nem a burra dessa daí. Nasce, cresce, quando pensa que tá virando gente vem um pé-rapado qualquer e com uma boa conversa ganha a idiota. Aí casa e entra pra lista das donas-de-casa. Donas de quê? Essa daí só tem de seu a dureza dessa vida besta.

Isabel: Mas tem suas vantagens. Quando está assim é sinal que não irá me procurar, de noite. Ainda bem, porque estou morta de tanto trabalhar como uma mula de carga. Não é brincadeira, mas parece que lavei a roupa de um batalhão inteiro. E somos só nós três; nunca vi gente pra sujar roupa como esses aí. Se ao menos a Neuzinha me ajudasse... Mas, agora, com esse negócio de trabalhar fora... Quer ser independente. Ela ainda vai ver essa independência se acabando num tanque cheio de roupas e limpando merda de nenê. Bem, ao menos ainda ajuda um pouco nas despesas e tem um dinheirinho de seu, pra gastar. E eu? Até que gostaria de ganhar algum, mas se falasse em trabalhar fora, esse animal me cobriria de pancada. Nem sei como ele deixou a Neuzinha...

Manoel: Olha só essas duas. Caladas como dois postes. Mulher é assim mesmo. Sabe Deus o que conversam quando estão só elas. Corto o meu saco se a Isabel já não fez a cabeça da Neuzinha a meu respeito. Deve ter falado pra ela que o pai só anda de mau humor, não dá dinheiro em casa... É verdade que esse dinheirinho não é lá grande coisa, mas é suado, é honesto e bem ou mal, vamos vivendo. Será que preferiam que eu fosse como aqueles mandriões do bar? Todas as tardes dizendo “como é, Mané? Que tal uma sinuca? Chega aí pra uma cervejinha”. O que eu ganho vindo direto pra casa, é isso: carrancas. E uma cerveja, que é bom, só aos domingos e olhe lá. Ah, se um dia eu ganhasse na loteria, virava tudo de pernas pro ar. Essa história de que dinheiro não traz felicidade é consolo daqueles que erraram a loteria por um número.

Isabel: Que posso fazer? Pra comprar um vestidinho nas Pernambucanas tenho de ficar alisando essa besta por um mês, pegar de bom humor. Do contrário, é aquela cantilena: “vestido novo, pra quê? A gente nunca vai a lugar nenhum...”

Neusinha: Comigo vai ser diferente. Posso até demorar pra sair daqui, mas quando sair, vai ser em grande estilo. O cara vai ter de ser rico, bonito. O amor vem depois, com o tempo. Eu sei como são essas coisas...

Isabel: Paciência, Isabel. Não era você quem estava louca pra casar? Se soubesse... O Manoel até que é um bom sujeito, às vezes. Mas, qual é a mulher que quer um bom marido “às vezes”? Quando ele não é, só Deus sabe o que tenho de agüentar. Pior é que não tenho nem com quem desabafar. A Neuzinha é uma alienada. Quando não está naquele escritorinho de contabilidade, passa o tempo lendo essas ridículas fotonovelas. Nem de escola quer saber. Não dá mesmo pra conversar. E depois, ainda ia piorar mais as coisas, ficar contra o pai, coisa e tal. Paciência, paciência...

Manoel: Amanhã, vou ter uma conversa com o “seu” Armando. Ele tem de entender que precisa dar uma melhorada no meu ordenado. Com esse papo de livre negociação, o cacete, acho que está é me enrolando. E a situação aqui em casa, cada vez mais preta. A Isabel só chora, pedindo dinheiro pra fazer a feira. A incompetente da Neuzinha pensa que recebo rios de dinheiro. Ainda bem que arranjou esse emprego e está pesando menos no bolso. Mesmo assim, as coisas não estão boas, não.

Isabel: Espero que a água volte logo. Lavar essa pilha de louça, no balde, é um tormento. Por que essa porcaria de água não acabou antes de eu ter lavado a roupa? Pelo menos não estaria neste bagaço. Pobre, nem nisso dá sorte.

Neusinha: Que dia... Como se não bastasse ter de agüentar aquele papo cretino das meninas, chego em casa e encontro esse clima de velório. Pior que depois disso a gente ainda tem de aturar o Jornal. Se ao menos depois desse pra assistir a novela... O diabo é que o velho não perde a sessão bang-bang, nem que a vaca tussa. Que pobreza, meu Deus! Casa com uma televisão só, não dá. Na minha, eu vou ter TV até no banheiro.

Manoel: Há quanto tempo não tomo um vinho? Sorte que de vez em quando vamos pra casa dos pais dela. O velho Nogueira, malandrão, é que sabe viver a vida. Só toma Chatô Duvaliê. Pelo menos ele não é regulado. Faz questão que eu acompanhe em cada copo. Quem sou eu pra rejeitar? Por outro lado, o maldito não nega a raça; está sempre a tirar uma casquinha comigo: “Manoel, Manoel, tu não sabes aproveitar a vida. Precisas viajar. Não tens saudade da terrinha?” O filho da puta sabe muito bem que ganho uma merda de salário e vem com essa conversa pra cima de mim, só pra me humilhar. Se eu fosse como ele, que enriqueceu explorando aqueles cortiços, estaria bem melhor agora. Deixa estar. Quem mandou ele me dar a filha única? O dia que aquele diabo bater as botas, ponho as mãos naquele dinheirão todo. Mas, azarado como sou, é capaz que eu vá antes daquele aldrabão.

Isabel: Já vi esse sorriso na cara do Manoel outras vezes e nunca, esses anos todos, consegui saber em que estava pensando. De uma coisa tenho certeza: não é por causa da comida; mesmo comendo como um morto de fome, posso esperar sentada por um elogio dele.

Manoel: Coitada da Isabel. Eu nunca elogio sua comida. E olha que este picadinho está uma delícia. Uma delícia mesmo!

Isabel: Que nojo!...

Neusinha: Parece um porco...


Carlos Bruni

Memoria

La memoria es frágil y el transcurso de una vida es muy breve y sucede tan deprisa que no alcanzamos a ver la relación entre los acontecimientos, no podemos medir la consecuencia de los actos... por eso mi abuela Clara escribía en sus cuadernos, para ver las cosas en su dimensión real.

Isabel Allende. La casa de los espiritus (1982).

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Juno

Filme muito bom! Divertido e inteligente.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Serão do menino pobre

Na sala pobre da casa da roça
papai lia os jornais atrasados.
Mamãe cerzia minhas meias rasgadas.
A luz frouxa do lampião iluminava a mesa
e deixava nas paredes um bordado de sombras.
Eu ficava a ler um livro de histórias impossíveis
— desde criança fascinou-me o maravilhoso.
Às vezes, Mamãe parava de costurar
— a vista estava cansada, a luz era fraca,
e passava de leve a mão pelos meus cabelos,
numa carícia muda e silenciosa.

Quando Mamãe morreu
o serão ficou triste, a sala vazia.
Papai já não lia os jornais
e ficava a olhar-nos silencioso.
A luz do lampião ficou mais fraca
e havia muito mais sombra pelas paredes...
E, dentro em nós, uma sombra infinitamente
[ maior.

Ascânio Lopes (1906-1929)

E daí?

Estudante, os mais íntimos colegas
Já viam nele um grande gênio então;
Ele também; e agiu segundo as regras
Passando em claro as suas noites negras.
E daí? canta a sombra de Platão.

Seus escritos lhe dão notoriedade;
Ao cabo de alguns anos ganha tão
Bem que não passa mais necessidades;
Seus amigos, amigos de verdade.
E daí? canta a sombra de Platão.

Seus sonhos todos vêm à luz do dia:
Casa boa, mulher, filhos, carrão,
Horta e pomar onde tudo crescia,
Poetas e Sábios sobre ele choviam.
E daí? canta a sombra de Platão.

Obra completa, já maduro, tosse:
"Meu projeto de jovem concluí;
Que os tolos clamem; um senão que fosse;
Pois algo ao nível do perfeito eu trouxe."
E a voz mais alto: E daí? E daí?

Willian Butler Yeats (1865-1939)

Texto original em inglês:

His chosen comrades thought at school
He must grow a famous man;
He thought the same and lived by rule,
All his twenties crammed with toil;
"What then?" sang Plato's ghost. "What then?"

Everything he wrote was read,
After certain years he won
Sufficient money for his need,
Friends that have been friends indeed;
"What then?" sang Plato's ghost. "What then?"

All his happier dreams came true

A small old house, wife, daughter, son,
Grounds where plum and cabbage grew,
poets and Wits about him drew;
"What then?" sang Plato's ghost. "What then?"

"The work is done," grown old he thought,
"According to my boyish plan;
Let the fools rage, I swerved in naught,
Something to perfection brought";
But louder sang that ghost, "What then?"

Poema dum funcionário cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do
[ quintal em frente

e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido
[ o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu
[ cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma só noite
[ comprida
num quarto só

António Ramos Rosa (1958)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

C'est fascinant, mon travail

Tout s’est bien passé à Diamantina. C’est une ville charmante, pleine de tradition, de culture, de passé. Au Seminaire sur l’Économie Mineira j’ai presenté mon article sur les stratégies de marché à Minas au XVIIIe siècle et, après, j’ai su par Eduardo Paiva que ma recherche avait été bien réçue. Les présentations ont été dirigés par Douglas Libby, avec les commentaires de João Fragoso. J’était nerveux. Les regards étaient tous sur moi; je tremblais; j’avais peur. Pourtant, tout s’est bien passé. Le jour suivant, j’ai connu presque toutes les églises, la maison de Chica da Silva et le Musée du Diamant, où j’ai vu les instruments de travail, les armes, les meubles et d’autres objets utilisés par les personnes qui ont vécues au village du Tijuco au XVIIIe siècle. J’ai connu aussi la Bibliothèque Antônio Torres, où j’ai pu feuilleter quelques oeuvres du XVIIIe et XIXe siècles, comme, par exemple, un très ancien traité de medicine et le Cours de philosophie positive d’ Auguste Comte. L’église la plus belle de Diamantina est, sans doute, l’église des carmelites, celle de N. S. do Carmo, dont la construction a été payée par João Fernandes de Oliveira. Elle est très belle. Je ne sais pas comment la décrire, c’est quelque chose de magnifique, pas exubérante, mais fantastique à voir quand même. J’ai aussi visité la maison où l’ancien président JK était passé l’enfance et j’y ai vu les photos, les meubles, les livres et d’autres choses qui lui ont appartenues. Le passé de cette ville et de ses fils m’a complètement séduit. J’adore parcourir les rues anciennes, voir les églises, respirer l’air du passé. Ça alimente dans mon âme le désir de continuer à étudier l’histoire, de questionner les documents à propos de ce qui s’est passé il y a 200, 300 ans. C’est fascinant, mon travail.

Belo Horizonte, le 04 septembre, 2000

Precisamos dos ovos

"Doutor, meu irmão é louco. Ele pensa que é uma galinha."
"Então por que você não o leva para um hospício?"
"Eu o levaria, mas preciso dos ovos."

- É mais ou menos isso o que eu sinto a respeito das relações. Elas são totalmente irracionais, loucas e absurdas, mas penso que continuamos entrando nelas simplesmente porque "precisamos dos ovos".

Cena final de Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), de Woody Allen: Aqui

Noivo neurótico, noiva nervosa

Breve reflexão sobre o sentido da vida, a velhice e a morte: Clique aqui

Fanny e Alexander

Fanny och Alexander (Suécia, 1982). Direção: Ingmar Bergman. Até hoje, nenhum filme conseguiu me emocionar tanto quanto esse. Saí do cinema tonto, completamente sem rumo, sem referência, perdido. Devo ter circulado a Praça da Liberdade umas dez vezes... Estonteante! Fascinante! Maravilhoso! Aterrorizante! Experiência fantástica!
Veja uma das cenas mais marcantes: Aqui

domingo, 21 de dezembro de 2008

Explode coração

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou

Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor dessa manhã

Nascendo, rompendo, rasgando, tomando meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração...

Gonzaguinha

Maria Bethânia canta: Aqui

sábado, 20 de dezembro de 2008

Herencia

Veja esse filme! Produção argentina de primeira qualidade. Emocionante!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Diamantes são eternos

Filme excelente! Produzido em 1971, é um dos melhores da série James Bond.
Mas vamos respeitar: eterna mesma é a voz da Shirley Bassey cantando Diamonds are forever. Que mulher é essa?
Quer vê-la cantando? Clique aqui

Diamonds are forever,
They are all I need to please me,
They can stimulate and tease me,
They won't leave in the night,
I've no fear that they might desert me.
Diamonds are forever,
Hold one up and then caress it,
Touch it, stroke it and undress it,
I can see every part,
Nothing hides in the heart to hurt me.

I don't need love,
For what good will love do me?
Diamonds never lie to me,
For when love's gone,
They'll luster on.

Diamonds are forever,
Sparkling round my little finger.
Unlike men, the diamonds linger;
Men are mere mortals who
Are not worth going to your grave for.

I don't need love,
For what good will love do me?
Diamonds never lie to me,
For when love's gone,
They'll luster on.

Diamonds are forever, forever, forever.
Diamonds are forever, forever, forever.
Forever and ever.

O tamanho da gente

O homem acha o Cosmos infinitamente grande
E o micróbio infinitamente pequeno.
E ele, naturalmente,
Julga-se do tamanho natural...
Mas, para Deus, é diferente:
Cada ser, para Ele, é um universo próprio.
E, a Seus olhos, o bacilo de Koch,
A estrela Sírius e o Prefeito de Três Vassouras
São todos infinitamente do mesmo tamanho...

Mário Quintana

Virá bater à nossa porta?

Esse tropel de cascos na noite profunda
Me enche de espanto, amigo...
Pois agora não existem mais carros de tração animal.
É com certeza a morte no seu carro fantasma
Que anda a visitar seus doentes pela cidade...
Será ela? Virá acaso bater à nossa porta?
Mas os fantasmas não batem; eles atravessam tudo silenciosamente,
Como atravessam nossas vidas...
A morte é a coisa mais antiga do mundo
E sempre chega pontualmente na hora incerta...
Que importa, afinal?
É agora a única surpresa que nos resta!

Mário Quintana

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Felicidade clandestina

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruiva­dos. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implo­rar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, na­dava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tran­qüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquan­to o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhe­ra para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


Clarice Lispector (1971)

Los hombros soportan el mundo

Llega un tiempo en que no se dice más: Dios mío. Tiempo de absoluta depuración. Tiempo en que no se dice más: amor mío. Porque el amor resultó inútil. Y los ojos no lloran. Y las manos tejen apenas el rudo trabajo. Y el corazón está seco. En vano mujeres golpean la puerta: no abrirás. Quedaste solo, la luz se apagó, pero en la sombra tus ojos resplandecen enormes. Eres todo certeza, ya no sabes sufrir. Y nada esperas de tus amigos. Poco importa la vejez, ¿qué es la vejez? Tus hombros soportan el mundo y no pesa más que la mano de un niño. Las guerras, las hambres, las discusiones dentro de los edificios prueban apenas que la vida prosigue y que ni todos aun se liberaron. Algunos, pareciéndoles bárbaro el espectáculo, prefirieron (los delicados) morir. Llegó un tiempo en que es inútil morir. Llegó un tiempo en que la vida es una orden. La vida apenas, sin mistificación.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Oscar Wilde

"It is perfectly monstrous the way people go about, nowadays, saying things against one behind one's back that are absolutely and entirely true."
-- “The Picture of Dorian Gray”

"Life is never fair...And perhaps it is a good thing for most of us that it is not."
-- “An Ideal Husband”

"No man is rich enough to buy back his past."

"How many men there are in modern life who would like to see their past burning to white ashes before them!"
-- “An Ideal Husband”

domingo, 14 de dezembro de 2008

A Culpa

o que é
a culpa?

senão a mão que
não existe mais
aguilhoando
o mesmo cão

senão o olho desse cão
que não existe
abocanhando
a mesma mão

Vera Lúcia de Oliveira

Loucos

“Para o lado de lá”, disse o Gato de Cheshire, apontando com a pata direita, “vive um Chapeleiro: e para o lado de lá”, apontando com a outra pata, “vive uma Lebre de Março. Visite qualquer um dos dois: ambos são loucos”.
“Mas não quero encontrar gente louca”, observou Alice.
“Ah, isso não tem jeito”, disse o Gato.
“Somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca”.
“Como é que você sabe que eu sou louca?” disse Alice.
“Só pode ser”, disse o Gato, “ou não estaria aqui".

Lewis Carrol (1832-1898). Alice no País das Maravilhas.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Nada fica de nada

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.

Fernando Pessoa - 14/02/1933

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Fora de linha

Os homens obsoletos foram dispensados
como candidatos a recrutas, por excesso de contingente.
Os homens obsoletos vagam qual zumbis
em praças, parques e estações de metrô.
Os homens obsoletos alimentam-se de jornais
e engordam nos sofás diante da televisão.
Os homens obsoletos cumpriram as exigências:
faculdade, inglês e cursos de pós-graduação.
Os homens obsoletos mantiveram-se jovens
com dietas, ginástica e oficinas de auto-estima.
Os homens obsoletos tiveram bloqueados
seus crachás, suas senhas e cartões de crédito.
Os pais não querem os homens obsoletos.
— Ah, quanto dinheiro investido em sua educação!
Os amantes não querem amar os homens obsoletos
porque estes têm a pele com gosto de ferrugem.
O mercado não absorve os homens obsoletos,
pois não existe demanda para a exportação.
Não há como reciclá-los para que se encaixem
nos mutáveis programas de reengenharia.
Terapeutas recomendam aos homens obsoletos
que ocupem o tempo ocioso nos museus e galerias,
nas paróquias ou mesmo em clubes de filatelia.
Os homens obsoletos caíram em desuso
como os chapéus, as galochas e o jogo de bilboquê.

Donizete Galvão