sexta-feira, 22 de julho de 2016

Saloon


"Frank se deu conta de que não ia conseguir dormir, e seguiu para o saloon mais próximo. À porta do estabelecimento, onde outrora só havia cavalos amarrados, agora viam-se Silent Gray Fellows da Harley-Davidson e V-twins da Indian, adaptadas para uso naquela terra, com embreagens, correias, correntes e caixas de mudança reforçadas. Por toda a Main Street, nesses saloons misturavam-se motociclistas que faziam proezas no circuito de circos do interior, em busca de uma mudança de ares, e bandoleiros fedelhos cantando a várias vozes 'Pie in the sky' de Joe Hill para um público de velhos trabalhadores niilistas assumidos, em cujas palmas das mãos as linhas do amor e da vida, os montes de Vênus e tudo o mais haviam sido soterrados, com o passar dos anos, sob um mapa de inscrições lívidas e profundas que nenhuma cigana de parque de diversões ousaria ler, traçadas por incêndios, muros de pedra, arame farpado desenrolado depressa demais, baionetas nos xilindrós de Coeur d'Alene... Membros motorizados da famigerada Gangue de Four Corners, sediada em Cortez, pagavam doses duplas de uísque de milho para entusiastas que vinham de lugares tão distantes quanto Kansas, arrancados não de todo à força de alguma excursão de clube, e passavam a noite conversando sobre embreagens e cárteres até o sol surgir na janela."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 471

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