domingo, 29 de junho de 2008

A obra do gênio

Faz parte das regras do convívio social respeitar as pessoas pelos cargos que ocupam, pela titulação, pela idade, pela competência, pela riqueza, etc., mas não vejo razão para exageros da parte de quem respeita nem da de quem é respeitado. No Brasil, políticos, empresários, juízes, médicos, artistas, etc. são muitas vezes colocados sobre pedestais, e ali, muitos deles se julgam semi-deuses. Eles merecem ser respeitados, mas julgá-los importantes demais e fazê-los crer que realmente o são é ridículo. Tudo flui, já dizia Platão; dinheiro, cargos e posição social acabam, e muito rápido! A vida é um piscar de olhos. Segundo o célebre historiador austríaco Ernst Gombrich, o Tempo é “um rio com ondas ruidosas como as ondas do mar. O vento é forte, a crista das ondas é coberta de espuma. Ao ritmo das ondas, gotículas sobem à superfície e depois desaparecem. A crista da onda as carrega por um instante, depois elas voltam a cair, como engolidas, e desaparecem. Saiba que cada um de nós não é nada mais do que essa gota cintilante, minúscula, sobre as ondas do tempo que correm debaixo de nós para mergulhar na névoa indefinível do futuro. Nós emergimos da água, olhamos à nossa volta e, antes mesmo de percebermos, já desaparecemos. É impossível nos ver no grande rio do Tempo. Constantemente novas gotas vêm à tona. E o que chamamos de nosso destino nada mais é do que nossa luta no meio dessa multidão de gotas, o tempo de um simples subir e descer da onda”.
No rio do Tempo, poucas pessoas deixam obras realmente geniais. Não vejo diferença entre a boa obra de um juiz ou de um político e a de uma mãe que criou seus filhos com amor e dedicação. A obra do gênio é diferente. Ela é imortal, universal, e é assim que eu vejo a obra de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Sua música é genial. Ao ouvi-la, temos a sensação de que não foi um simples mortal que a compôs, mas um espírito realmente superior.