"Quando a luz do dia desapareceu da cidade naquela noite, a
iluminação de rua estava muito mais fraca do que de costume. Era difícil
enxergar o que quer que fosse com clareza. As barreiras sociais comuns
estavam reduzidas ou simplesmente ausentes. Os gritos que prosseguiam
por toda a noite, ignorados como ruído de fundo durante o dia, agora, na
ausência do clamor do tráfego, assumiam um tom de urgência e desespero –
um coro de sofrimento prestes a passar do domínio do invisível para
algo que talvez tivesse de ser enfrentado. Vultos que tarde da noite só
apareciam em níveis de cinzento, agora, constatava-se, possuíam cor, não
os tons da moda que se viam durante o dia, porém matizes de
vermelho-sangue, amarelo-necrotério, verde-veneno."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 156
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