segunda-feira, 11 de julho de 2016

Dally

"Assim, Dally, uma garota que já era dotada de uma boa quantidade de bom senso inato, acabou adquirindo muitas informações úteis no Popcorn Alley. [...]

Com o que ganhou trabalhando um mês na mina, comprou de uma dançarina do Pick and Gad um revólver 22, que ela ostentava o tempo todo, em parte por não ter nenhum vestido ou saia em que pudesse escondê-lo, mas também porque a simples presença da arma, não tão evidente em seu corpo miúdo quanto seria uma arma de maior porte, não deixava nenhuma dúvida quanto à sua capacidade de sacar, fazer pontaria e atirar, algo que ela praticava religiosamente sempre que tinha oportunidade, em vários montes de escória, chegando mesmo a ganhar uns trocados de vez em quando com apostas que fazia com supostos grandes atiradores entre os mineiros. 'Annie Oakley!', gritavam os finlandeses quando ela aparecia, jogando pequenas moedas para cima na esperança de que ela fizesse um furo numa delas, coisa que de vez em quando ela tinha a felicidade de conseguir fazer, proporcionando a muitos dos que viriam a retornar à Finlândia um amuleto a que se apegar nos tempos de guerra civil e de Terror Branco, saques e massacres – algo que indicava a possibilidade de vencer, de vez em quando, a lei das probabilidades e realizar o contrafactual naquele mundo gélido que os aguardava."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 310

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