"Entre os alunos de matemática, o hidrato de cloral era a droga
predileta. Mais cedo ou mais tarde, fosse qual fosse o problema
enfrentado, tendo sido levados por suas obsessões a sofrer de insônia
todas as noites, eles começavam a tomar remédios fortes para dormir – o
próprio Geheimrat Klein era um grande defensor da substância – e quando
davam por si haviam se tornado habitués, que se reconheciam mutuamente
através dos efeitos colaterais, em particular as erupções de espinhas
vermelhas, conhecidas como 'cicatrizes de duelo da cloralomania'. Nas
noites de sábado em Göttingen, havia sempre pelo menos uma festa de
cloral, ou Mickifest.
Era
uma reunião estranha, que só de vez em quando ficava, digamos, animada.
As pessoas falavam descontroladamente, muitas vezes com seus próprios
botões e sem fazer qualquer pausa perceptível para respirar, ou então
ficavam largadas numa paralisia agradável por cima dos móveis, ou então,
à medida que se prolongava a noitada, no assoalho, numa narcose
profunda."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 627
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