"Existem várias confrarias, seitas e o diabo a quatro de grupinhos
de afinidades que buscam o bem (às vezes o mal, vai saber) comum. Como
sou um reles pé-rapado, um recém-formado que volta e meia dá seus pulos
para conseguir uns trocadinhos, nunca tentei e também não tenho
esperanças de entrar em um desses grupos de ajuda mútua. Mas isso também
não é o fim do mundo.
Já que eu não tenho a manha para adentrar e
participar dos seletos núcleos que se fecham neles mesmos, decidi,
junto com mais alguns amigos, criar o meu próprio grupo. Ele se chama
Clube dos Desempregados.
O Clube dos Desempregados é um grupo,
não muito homogêneo e pouco organizado, de jornalistas recém-formados
que se reúnem em datas acertadas previamente para tomar cerveja, comer
quitutes não muito saudáveis, falar mal da vida das pessoas, especular
sobre o que os outros amigos e colegas estão fazendo no momento, ligar
para alguns outros desocupados para compartilharem a mesma fossa e, às
vezes, saber se existe alguma vaguinha no tão temido MERCADO DE
TRABALHO!
Estamos preocupados? Balela! O grande barato do Clube
dos Desempregados — visto como Clube dos Vagabundos pelos detratores — é
simplesmente aproveitar o maior prazer daqueles que estão à margem do
sistema: não fazer nada, tomar cerveja em plena tarde de terça-feira (ou
durante o horário comercial, como dizem os inseridos).
Outra
importantíssima atividade do CD: ligar para os amigos que estão
trabalhando e, como quem não quer nada, atiçar a vontade alheia dizendo
que estão fulano, sicrano e beltrano reunidos sem fazer nada. Mas que
vidão!
Ok! Confesso que entre um gole e outro, sempre tem alguém
que diz: 'Putz, tô sem grana' ou 'Cara, preciso arrumar alguma coisa.
Nem que seja pela metade do piso!'. Outros não param de olhar o celular,
achando que do além a Gazeta, a Tribuna ou qualquer outro grande
veículo ou assessoria de imprensa vá entrar em contato, respondendo ao
envio do currículo. Isso não tem acontecido com muita frequência.
No meu caso, o prazer em não fazer os que alguns tanto querem é
diferente. Não estou desempregado por incompetência, por não ter uma
rede de contatos ou qualquer outro motivo que sempre vira pauta nas
reuniões do clube. Estou desempregado por opção. Sim! Larguei um emprego
em que ganhava milão, sem nenhum benefício e também sem nada que me
motivasse a continuar. Prefiro não me ver como um desempregado, e sim
como um talento desperdiçado. Mas também acho que seria muita pretensão
criar o Clube dos Talentos Desperdiçados ou algo semelhante.
Enfim. Procuro algo que eu realmente goste, mas isso é uma grande
ilusão. Sei que daqui um tempo o desespero e as dívidas podem bater na
minha porta e a “metade do piso” vai ser uma fortuna e uma bênção de
Deus. Enquanto isso, vou levando a vida, escrevendo aqui e ali, tirando
um miudinho daqueles que ainda acreditam que eu sou capaz! Mas vem cá…
Você não sabe de alguma vaga para jornalista recém-formado?"
Felipe Rodrigues. O clube dos desempregados. Crônica publicada no blog Vida Breve em julho de 2011
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