"Durante uma semana, mais ou menos, Cyprian conseguiu enlouquecer um
pouco, retomando, ainda que não em tempo integral, sua antiga carreira
de sodomia remunerada. Naquela cidade não faltavam homens pálidos cujos
gostos ele compreendia, e ele precisava de dinheiro, uma pilha de
dinheiro de certa altura, para poder enfrentar Theign da maneira
apropriada. Quando sua incursão na esbórnia já havia lhe proporcionado o
suficiente, foi até o salão de Fabrizio para reduzir seus cachos a fim de assumir um ar mais guerreiro, e em seguida pegou o trem vespertino de Trieste.
Mais uma vez atravessando a ponte de Mestre, em direção a um pôr do sol
com um tom fumacento de laranja, Cyprian sentia a tristeza
característica da contemplação de um passado recente irrecuperável. As
coisas muito anteriores, infância, adolescência, essas estavam
encerradas, ele não precisava mais delas – o que ele queria outra vez
era a semana passada, a semana retrasada."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 875
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