"O que chamou a atenção de Cyprian mais do que qualquer mudança de
vestuário foi o aspecto radiante de um espírito redespertado que Ratty,
agora claramente libertado da máscara rígida de sua velha personalidade
profissional, estava ainda aprendendo a controlar. 'Não estou
disfarçado, não, não, este é o meu eu verdadeiro – a carreira de
funcionário público, isso tudo terminou pra mim, na verdade a culpa foi
sua, Cyprian. A maneira como você enfrentou o Theign foi uma inspiração
para muitos de nós – e de repente surgiram vazios de pessoal em toda a
Whitehall, em alguns departamentos chegou a haver uma deserção em massa.
Quem nunca trabalhou lá não pode imaginar a felicidade que é livrar-se
daquilo finalmente. Era como se eu estivesse a patinar no gelo, um belo
dia simplesmente entrei a deslizar na sala do diretor, coisa curiosa,
nem me lembro de ter aberto a porta antes, interrompi uma reunião,
despedi-me, beijei a datilógrafa ao sair, e não é que ela correspondeu
ao meu beijo, largou o que estava a fazer e veio comigo? Simplesmente
largou tudo. Sophrosyne Hawkes, uma linda rapariga – lá está ela."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 937
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