"'Que horas são, Yashmeen, não é possível que ainda seja tão cedo.'
'Talvez o tempo esteja mais lento, como dizem lá em Zurique. No meu relógio são onze.'
'Mas olha o céu.' De fato, era estranho. As estrelas não haviam
aparecido, havia uma luminescência esquisita no céu, aquela luz
obstruída de um dia de tempestade.
Isso durou um mês. Aqueles que julgavam ser um sinal cósmico
estremeciam ao olhar para o céu a cada entardecer, imaginando
catástrofes cada vez mais extravagantes. Outros, para quem o laranja não
parecia um tom adequado ao apocalipse, ficavam sentados em bancos de
praça, lendo tranquilos, acostumando-se com aquele curioso brilho
pálido. À medida que as noites foram se sucedendo e nada acontecia e o
fenômeno em pouco tempo foi se reduzindo aos tons habituais de violeta, a
maioria das pessoas já não se lembrava da tensão, da sensação de
aberturas e possibilidades, que haviam experimentado antes, e mais uma
vez voltaram a pensar apenas no próximo orgasmo, alucinação, estupor,
sono, para que pudessem atravessar a noite e proteger-se contra o dia."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 809-810
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