"Num raro dia de sol, perto de uma cidadezinha no vale do Vjosa, ele e
Yash se permitiram relaxar por um momento para apreciar a vista.
'Eu ficava aqui a vida toda.'
'Isso não me parece conversa de nômade.'
'Mas olha só.' Uma bela paisagem, pensava Reef, uma dúzia de minaretes
erguendo-se ao sol por entre as árvores, um riozinho cujo fundo dava
para se ver atravessando a cidade, a luz amarela de um café ao pôr do
sol que talvez eles viessem a frequentar regularmente, os cheiros e os
murmúrios e a certeza antiquíssima de que a vida, por mais que de vez em
quando se reduzisse à arte de agir como uma presa inteligente, era
preferível à praga de águias que começava a tomar conta da terra.
'Isso é que é o pior de tudo', disse Yashmeen. 'É tão belo.'
'Espera só até você ver o Colorado.'
Ela olhou para ele, e após uma ou duas batidas de coração ele olhou
para ela. Ljubica, que naquele momento estava nos braços de Reef,
apertou o rostinho contra o peito do pai e ficou olhando para a mãe como
sempre fazia quando percebia que Yash estava prestes a começar a
chorar."
Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 976
Nenhum comentário:
Postar um comentário