quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Ferrovias


"Frank sabia que sempre que o brujo falava com um branco sobre 'caminhos' ele pensava, com não muita boa vontade, nas estradas de ferro, que ele odiava como a maioria de sua gente, por elas destruírem a terra e o que outrora nela crescia e vivia. Frank respeitava essa atitude – quem, a certa altura da vida, não tinha sentido ódio da ferrovia? Ela penetrava, ela rasgava ao meio cidades, manadas selvagens, divisores de águas, gerava pânico econômico e exércitos de mulheres e homens desempregados, e gerações de citadinos endurecidos, sem sentimentos e sem princípios, que reinavam com poder absoluto, ela levava embora tudo de modo indiscriminado, para ser vendido, abatido, carregado para onde o amor não alcança."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 935

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