"Na Babel em que todos podem falar ao mesmo tempo, irão se sobressair
aqueles que se fizerem mais vistos, claro que por seus próprios meios.
Todavia, como todos podem falar, o número de coisas a serem vistas e
ouvidas é infindável, de tal modo que para que se possa tomar parte
neste circuito que se quer infinito, tudo deve ser feito segundo o
critério da facilidade. Tudo deve ser fácil de ver, de ouvir, de
interagir.
A timeline da rede social será melhor vista, isto quer dizer,
mais rapidamente vista, quanto mais fáceis forem as coisas que se
apresentem. Nesta faceta, a internet mostra-se muito mais conformista
que revolucionária. E todos aqueles que objetivam ganhar e aumentar
visibilidade devem assim proceder, não importa a direção política que
sigam. [...]
Qualquer ato
que possa demandar um maior tempo e esforço é, de imediato, rechaçado,
posto que se identifica com a encarnação da chatice. Assim, são os
nossos desejos, afetos e pensamentos que também devem se acomodar ao
critério da rapidez e da facilidade. [...]
O ‘pensamento fácil’ é
o modo difuso como raciocina o indivíduo deste começo de século. É a
renúncia antecipada a qualquer resquício de complexidade. Pois esta
última implica demora, esforço, e tais coisas são abominadas como sendo
os antônimos absolutos da facilidade. Conformando-se aos tempos
informacionais, o 'pensamento fácil' abole a barreira entre o simples e o
simplório. Trabalha com definições curtas, como na lógica do
estabelecimento do número máximo de caracteres. [...]
Desse modo,
também a linguagem, as capacidades expressivas são alteradas pelo
critério da brevidade, que é a regra linguística do 'pensamento fácil'.
[...]
Se também nós nos acomodarmos ao ‘pensamento fácil’, cada
vez mais perderemos a capacidade de realizar a crítica do presente, pois
enquanto nos dão a facilidade como regra, o mundo se complexifica, nos
pedindo cada vez mais o forjar de alternativas novas. Estas demandam
sempre esforço, pertinácia e tempo. Um tempo que não é o das facilidades
e um pensamento que não se contenta com simplismos. O desafio é, então,
atuar no virtual sem se deixar seduzir pelo ‘pensamento fácil’, nem
endossá-lo.”
Fran Alavina. A internet e as artimanhas do pensamento fácil. In: Carta Capital, 17/08/2016
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