domingo, 7 de agosto de 2016

Bois de canga


"Ela era apenas um dígito no universo binário da entidade que a controlava, desde os esconsos de um longínquo mainframe. Ela e todos que ali trabalhavam. E para consolidar a excelência de seus serviços, para obstar mensagens de erro ou de obsolescência que os expusessem às razias da tecla punitiva, já renegavam seus sentidos, já não reconheciam sentimentos, já eram soldados da era do silício e até prefeririam que lhes substituíssem as células nervosas por plaquetas de transistores, diodos e circuitos integrados. Já não eram integralmente humanos e, ao invés de algozes, eles também eram as vítimas, marchando como marcham os bois de canga, a pontaços de picana."

Sergio Faraco. A Dama do Bar Nevada, p. 81

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