segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Todo mundo?

"Abro revistas e encontro fórmulas prontas de comportamento: como ser feliz no casamento, como ter uma trajetória de sucesso, como manter-se jovem. Resolve-se a questão com meia dúzia de conselhos rápidos. Para ser feliz no casamento, todo mundo deve reinventar a relação diariamente. Para ter uma trajetória de sucesso, todo mundo deve ser comunicativo e saber inglês. Para manter-se jovem, todo mundo deve parar de fumar e beber. Todo mundo quem, cara pálida?

'Todo mundo' é um conceito abstrato, uma generalização. Ninguém pode saber o que é melhor para 'cada um'. Fórmulas e tendências servem apenas como sinalizadores de comportamento, mas para conquistar satisfação pessoal pra valer, só vivendo do jeito que a gente acha que deve, estejamos ou não enquadrados no que se convencionou chamar de normal. [...]

Fazer do seu jeito – amores, moda, horários, viagens, trabalho, ócio – é uma maneira de ficar em paz consigo mesmo e, de lambuja, firmar sua personalidade, destacar-se da paisagem. Claro que não se deve lutar insanamente contra as convenções só por serem convenções – muitas delas nos servem, e se nos servem, nada há de errado com elas. Estão aí para facilitar nossa vida. Mas se não facilitam, outro jeito há de ter. Um jeito próprio de ser alguém, em vez de simplesmente reproduzir os diversos jeitos coletivos de ser mais um."

Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 169-170

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