"Abro revistas e encontro fórmulas prontas de comportamento: como ser
feliz no casamento, como ter uma trajetória de sucesso, como manter-se
jovem. Resolve-se a questão com meia dúzia de conselhos rápidos. Para
ser feliz no casamento, todo mundo deve reinventar a relação
diariamente. Para ter uma trajetória de sucesso, todo mundo deve ser
comunicativo e saber inglês. Para manter-se jovem, todo mundo deve parar
de fumar e beber. Todo mundo quem, cara pálida?
'Todo mundo' é um conceito
abstrato, uma generalização. Ninguém pode saber o que é melhor para
'cada um'. Fórmulas e tendências servem apenas como sinalizadores de
comportamento, mas para conquistar satisfação pessoal pra valer, só
vivendo do jeito que a gente acha que deve, estejamos ou não enquadrados
no que se convencionou chamar de normal. [...]
Fazer do seu jeito – amores, moda, horários, viagens, trabalho, ócio – é
uma maneira de ficar em paz consigo mesmo e, de lambuja, firmar sua
personalidade, destacar-se da paisagem. Claro que não se deve lutar
insanamente contra as convenções só por serem convenções – muitas delas
nos servem, e se nos servem, nada há de errado com elas. Estão aí para
facilitar nossa vida. Mas se não facilitam, outro jeito há de ter. Um
jeito próprio de ser alguém, em vez de simplesmente reproduzir os
diversos jeitos coletivos de ser mais um."
Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 169-170
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