"Se fôssemos admirar apenas o trabalho dos bons moços, teríamos que
ignorar Oscar Wilde, Chet Baker, Cole Porter, Janis Joplin, Ray Charles,
Eric Clapton, Billie Holiday, Pablo Picasso, Jack Kerouac, Ernest
Hemingway, pra citar apenas alguns nomes de uma longa lista de
alcoolistas, viciados em drogas, egocêntricos, petulantes, malucos e
geniais.
Não é preciso ser doidão pra realizar uma grande obra,
há inúmeras pessoas talentosas que vivem de forma regrada, mas há que se
respeitar aqueles que necessitam
extravasar-se e que não estão prejudicando ninguém. A liberdade total
sempre foi politicamente incorreta. É pouco provável que Cazuza tivesse
criado as belas e viscerais canções que criou caso fosse um menino
temente a Deus com um emprego burocrático de segunda a sexta. Nada
contra os tementes a Deus com empregos burocráticos, eles dão bons pais
de família, bons médicos, bons carteiros e bons maridos, mas que não se
queira exigir de um artista esse tipo de enquadramento.
[...] não podemos fingir que o mundo é composto apenas de super-heróis
imunes a fraquezas, a curiosidades e a ímpetos que nem sempre estão
dentro dos padrões."
Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 64-65
Nenhum comentário:
Postar um comentário