desabrida
de repente
desferida?
O que fazer da inveja
malgerida
ferida entreaberta
no olho voluptuoso
do invejoso
que quanto mais cobiça
a pele alheia
mais se sente leproso?
Sou pobre de tudo,
de espírito muito.
Cobiçar o que em mim?
A paisagem que persigo?
A esperança que rumino?
O meu trabalho no eito?
O leite da mulher amada
na palha onde me deito?
Não mereço a glória
de vossa fúria.
Advirto, é desperdício.
Deve haver para vossa inveja
melhor alvo e exercício.
De qualquer jeito,
como quem não quer nada,
saio meio de esguelha
pondo um dente de alho na janela
e um ramo de arruda na orelha."
de espírito muito.
Cobiçar o que em mim?
A paisagem que persigo?
A esperança que rumino?
O meu trabalho no eito?
O leite da mulher amada
na palha onde me deito?
Não mereço a glória
de vossa fúria.
Advirto, é desperdício.
Deve haver para vossa inveja
melhor alvo e exercício.
De qualquer jeito,
como quem não quer nada,
saio meio de esguelha
pondo um dente de alho na janela
e um ramo de arruda na orelha."
Affonso Romano de Sant'Anna (1937-). Poesia Reunida (1965-1999). Volume 2. Porto Alegre: L&PM, 2007, p. 139
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