"Só
outra coisa eu conheci tão total e cega e forte como esta minha vontade
de me espojar na violência: a doçura da compaixão. Só isto ainda posso
tentar pôr no outro prato da balança – pois no primeiro prato está o
sangue e o ódio ao sangue que dói."
Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 594
Fui
fechando as doçuras de minha natureza a cada golpe que recebia e as
doçuras negadas foram se enegrecendo como nuvens simples que vão se
fechando em escuridão e eu abaixo a cabeça à tempestade."
Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 595
"Estou
à procura de um livro para ler. É um livro todo especial. Eu o imagino
como a um rosto sem traços. Não lhe sei o nome nem o autor. Quem sabe,
às vezes penso que estou à procura de um livro que eu mesma escreveria.
Não sei. Mas faço tantas fantasias a respeito desse livro desconhecido e
já tão profundamente amado. Uma das fantasias é assim: eu o estaria
lendo e de súbito, a uma frase lida, com lágrimas nos olhos diria em
êxtase de dor e de enfim libertação: 'Mas é que eu não sabia que se pode
tudo, meu Deus!'."
Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 354
"Será
que vou ter que viver a vida inteira à espera de que o domingo passe? E
ela, a faxineira, que mora na Raiz da Serra e acorda às quatro da
madrugada para começar o trabalho da manhã na Zona Sul, de onde volta
tarde para a Raiz da Serra, a tempo de dormir para acordar às quatro da
manhã e começar o trabalho na Zona Sul, de onde – Eu vou te dar o meu
segredo mortal: viver não é uma arte."
Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 353
Clarice Lispector (1920-1977). A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 353
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