"...eu acho mesmo que os livros nos salvam, de alguma maneira. Salvam
a gente de levar uma vida besta, doutrinada pela tevê. Salvam a gente
de ficar olhando só pra fora, só para o que acontece na vida dos outros,
sem nos dedicar a alguns momentos de introspecção. Salvam a gente de
ser preconceituoso. Salvam a gente do desconhecimento, do
embrutecimento, do mau-humor, da solidão, salvam a gente de escrever
errado. Se existe salvador da pátria, não conheço outro.
Quando me refiro
a alguém que lê, estou me referindo a alguém que lê bastante, que lê
com paixão, que lê compulsivamente. Porque ler dois ou três livros por
ano, apesar de estar dentro da média brasileira, está longe de ser
comemorado. Vira um programinha excêntrico: 'Vou aproveitar que hoje
está nevando e ler um livro'. Nada disso. Livro salva quem nele se
vicia. Salva quem não consegue se saciar. Quem quer saber mais, conhecer
mais, se aprofundar mais. É imersão. Mergulho. Salva a gente da secura
da vida."
Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 130
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