segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Perdidos

"Era um sábado à tarde. Eu estava num bairro onde nunca tinha colocado os pés, com um endereço anotado num pedaço de papel, dirigindo meu carro e ao mesmo tempo observando as placas de sinalização. Parecia uma barata tonta, não encontrava a rua que queria. Nisso o sinal fechou e eu parei atrás de um caminhão, em cujo para-choque estava escrito: 'Não me siga que eu também estou perdido'.

Comecei a rir da coincidência, tive vontade de descer e ir até a boleia abraçar meu companheiro de infortúnio. Somos dois, meu irmão. Aliás, somos mais do que dois. Somos muitos. Somos todos."

Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 197

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