"...os arrogantes não são poucos. Façamos aqui um retrato falado: são
aqueles que andam de nariz em pé, certos de que são o último copo
d'água do deserto. Aqueles que são grosseiros com subalternos, que se
empolgam ao falar de atributos que imaginam ser exclusivos deles, os que
furam a fila do restaurante e tomam como ofensa pessoal caso sejam
instalados numa mesa mal localizada. São os que ostentam, que dão
carteiraço e que sentem um prazer mórbido em humilhar aqueles que sabem
menos – ou que podem menos. São os preconceituosos e os que olham o
mundo de cima pra baixo. Será que eles acreditam que são assim tão
superiores? Lógico que não, e isso é que é patético.
Os arrogantes são os primeiros a reconhecer sua própria mediocridade, e
é por isso que precisam levantar a voz e se autopromover
constantemente. Eles não toleram a porção de fragilidade que coube a
todos nós, seres humanos, e não se acostumam com a ideia de que são
exatamente iguais aos seus semelhantes, sejam estes garçons, porteiros
de boate ou executivos de multinacionais. Dão a maior bandeira da sua
insegurança.
O arrogante acredita que todos estão a falar (mal)
dele, lê entrelinhas que não existem, escuta seu nome mesmo quando não
foi pronunciado, e ao descobrir que não é mesmo dele que estão falando,
aí é que morre de desgosto. Todo arrogante traz um complexo de
inferioridade que salta aos olhos. [...]
Repare bem: quase todos os atos de violência são protagonizados por um arrogante que entra em pânico com a palavra não."
Martha Medeiros (1961-). Coisas da vida. Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 189-190
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