quarta-feira, 15 de julho de 2015

Tudo pó

"(...) Arquiteto, artista,
doutor,
profissões de mercado. Mas até os mercados passam. Tudo se esboroa, se
desfaz e volta
ao pó,

tudo isso é pó e volta ao pó. Se o teu filho realizar feitos
incríveis, encher toda
Bat Yam de orgulho e sua casa de fortuna,
fama e tudo o mais, e uma Mercedes também, e for ungido no
melhor dos
óleos, com o passar dos anos o pó tudo cobrirá.
O nome se apagará, o óleo secará e restará apenas o pó da
ferrugem, e também
esta vai se dispersar, afinal,

aos quatro ventos. Uma poeira esquecida, mãe, a poeira do
nada, invisível,
imperceptível, a poeira das casas
esquecidas, que existiram e desmoronaram, dunas de areia
varridas pelo vento,
pó voltando ao pó,
de um punhado de poeira cósmica se formou essa estrela, e para
um buraco
negro ela retorna.

Médico, arquiteto, a casa dos sonhos e tapetes luxuosos na
melhor área de Bat
Yam. Tudo pó.
Volte, descanse, minha mãe, depois das montanhas eu volto, e
você e eu nos esconderemos,
Não nos alcançará nem mesmo a nuvem, que existiu antes de
todo ser, e que
só ela, afinal, restará."

Amós Oz (1939-). O mesmo mar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 108-9

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