domingo, 5 de julho de 2015

Os ombros de meu pai

"A energia de meu pai não faz nenhum efeito. Energia de um
pobre coitado.
Cansada, mortiça,
impotente. O que há nele, em vez disso, é um toque de
tristeza. Um ar de
resignação. Um judeu de meia-idade. Humilde cidadão. O que
poderá fazer e
acrescentar,
com suas débeis opiniões. E às vezes meu pai cita o versículo:
Assim como as fagulhas voam para o alto, o homem nasceu
para o trabalho.
Mas o que ele quer
me dizer com isso? Que eu voe para o alto? Que arranje um
emprego? Ou que
não lute em batalhas perdidas? A severidade de meu pai. Seus
ombros
derrotados.
Por causa deles parti. Para eles estou voltando."

Amós Oz (1939-). O mesmo mar. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 89

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