domingo, 7 de agosto de 2016

Trem vespertino de Trieste


"Durante uma semana, mais ou menos, Cyprian conseguiu enlouquecer um pouco, retomando, ainda que não em tempo integral, sua antiga carreira de sodomia remunerada. Naquela cidade não faltavam homens pálidos cujos gostos ele compreendia, e ele precisava de dinheiro, uma pilha de dinheiro de certa altura, para poder enfrentar Theign da maneira apropriada. Quando sua incursão na esbórnia já havia lhe proporcionado o suficiente, foi até o salão de Fabrizio para reduzir seus cachos a fim de assumir um ar mais guerreiro, e em seguida pegou o trem vespertino de Trieste.

Mais uma vez atravessando a ponte de Mestre, em direção a um pôr do sol com um tom fumacento de laranja, Cyprian sentia a tristeza característica da contemplação de um passado recente irrecuperável. As coisas muito anteriores, infância, adolescência, essas estavam encerradas, ele não precisava mais delas – o que ele queria outra vez era a semana passada, a semana retrasada."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 875

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