quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Perto de Vjosa


"Num raro dia de sol, perto de uma cidadezinha no vale do Vjosa, ele e Yash se permitiram relaxar por um momento para apreciar a vista.

'Eu ficava aqui a vida toda.'

'Isso não me parece conversa de nômade.'

'Mas olha só.' Uma bela paisagem, pensava Reef, uma dúzia de minaretes erguendo-se ao sol por entre as árvores, um riozinho cujo fundo dava para se ver atravessando a cidade, a luz amarela de um café ao pôr do sol que talvez eles viessem a frequentar regularmente, os cheiros e os murmúrios e a certeza antiquíssima de que a vida, por mais que de vez em quando se reduzisse à arte de agir como uma presa inteligente, era preferível à praga de águias que começava a tomar conta da terra.

'Isso é que é o pior de tudo', disse Yashmeen. 'É tão belo.'

'Espera só até você ver o Colorado.'

Ela olhou para ele, e após uma ou duas batidas de coração ele olhou para ela. Ljubica, que naquele momento estava nos braços de Reef, apertou o rostinho contra o peito do pai e ficou olhando para a mãe como sempre fazia quando percebia que Yash estava prestes a começar a chorar."

Thomas Pynchon (1937-). Contra o dia (2006). São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 976

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