quinta-feira, 24 de março de 2016

Paisagens sublimes

"As paisagens sublimes, através de sua grandeza e força, desempenham um papel simbólico em nos fazer aceitar, sem amargor nem queixas, os obstáculos que não conseguimos superar e os acontecimentos que não entendemos. Como bem sabia o Antigo Testamento, pode ser proveitoso armazenar dados relativos à pequenez da humanidade junto aos elementos da natureza que fisicamente a superam – as montanhas, o cinturão da terra, os desertos.

Se o mundo é injusto ou está além de nosso entendimento, os lugares sublimes sugerem que não surpreende que as coisas sejam assim. Somos joguetes das forças que criaram os oceanos e moldaram as montanhas. Lugares sublimes nos levam gentilmente a reconhecer as limitações que, de outra forma, poderiam nos causar ansiedade ou raiva no curso comum dos acontecimentos. Não é apenas a natureza que nos desafia. A vida humana não é menos devastadora, mas são os vastos espaços naturais que talvez nos ofereçam o melhor e mais respeitoso lembrete de tudo o que nos transcende. Se passarmos algum tempo com eles, talvez nos ajudem a aceitar com mais elegância os grandes e inconcebíveis acontecimentos que molestam nossa vida e nos retornarão, inevitavelmente, ao pó."

Alain de Botton (1969-). A arte de viajar. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 175

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