domingo, 20 de março de 2016

Os "sem noção" das redes sociais

"Os historiadores do futuro terão que se debruçar também sobre aquela categoria dos "sem noção". Categoria antropológica das mais curiosas, reúne indivíduos que ouviram o galo cantar, mas não sabem exatamente onde. Trazem sempre um arsenal de chavões, frases feitas, palavras de ordem, extraídos do lugar comum propagado pela mídia. Quando questionados, costumam assumir uma postura ofensiva, como se as verdades mais universais tivessem sido feridas. Retrucam com o mesmo repertório de sempre, como se a repetição pudesse conferir o estatuto de verdade às próprias opiniões. O mais divertido é ver o susto que tomam quando percebem a fragilidade dessas opiniões, quando confrontados com dados irrefutáveis... Abandonam o debate como crianças emburradas que, quando perdem o jogo, atiram o tabuleiro no chão. Fica evidente que, para os "sem noção", o ato de pensar, raciocinar e refletir é ainda extremamente inusual e, por isso, doloroso. Em razão disso, preferem terceirizar, abdicando do exercício daquilo que, desde Sócrates e Platão, é o que nos constitui como seres humanos. O resultado é o mal banal de que fala Hannah Arendt: esse fungo viscoso e rasteiro que se prolifera insidiosamente pelas redes sociais..."

Adriana Romeiro

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