Sertão é o imprevisível. A morte na
tocaia, indiferente, mansa, só esperando. Apeia-se aqui e ali, nas
beiras dos rios, nos bambuzais, nas matas, nos ranchos de pousada.
Come-se paçoca de carne, pequi, torresmo. Bebe-se cachaça. O destino é
seguir sempre, buscando: o de comer, o de beber... viver... Vida solta
indomada, e a gente no lombo dela, sem arreio, sem peias. No pelo.
“Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear
o senhor dos lados”, diz Riobaldo, em Grande Sertão: Veredas. Meu
sertão é minha alma: meus rios, pastos e montanhas, minha verdade:
vastidão desolada e rica onde sou eu mesmo, sem cabresto: cavalo solto,
livre, pronto para morrer, satisfeito. Meu sertão... Ele também me
rodeia dos lados, sai de dentro de mim e me protege, que nem escudo, das
certezas desse mundão aí fora. É guerra encarniçada, difícil.
Meu sertão me salva do previsível da vida, dos modelos de razão, que
fecham a gente em grades, que nem prisão. Porque no sertão, como diz
Riobaldo, “o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de
mais juízo!”. É o que eu penso.
Que me julguem, pois. Que me humilhem. Não me importo. Aí fora tudo é parcial. Ninguém vê total, puro. Vê só o que quer, o que pode. Não tem verdade.
Dentro de mim: verdade minha. Só. Sou o que sou, desamarrado, livre. Sei meu valor.
Que me espezinhem, pois. Que me torrem a paciência. Não me importo. Sou bicho do mato. Sou.
Riobaldo falou: “Sertão: é dentro da gente”. É isso.
Flávio Marcus da Silva (1975-)
Que me julguem, pois. Que me humilhem. Não me importo. Aí fora tudo é parcial. Ninguém vê total, puro. Vê só o que quer, o que pode. Não tem verdade.
Dentro de mim: verdade minha. Só. Sou o que sou, desamarrado, livre. Sei meu valor.
Que me espezinhem, pois. Que me torrem a paciência. Não me importo. Sou bicho do mato. Sou.
Riobaldo falou: “Sertão: é dentro da gente”. É isso.
Flávio Marcus da Silva (1975-)
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