"Os historiadores do futuro terão que se debruçar também sobre aquela
categoria dos "sem noção". Categoria antropológica das mais curiosas,
reúne indivíduos que ouviram o galo
cantar, mas não sabem exatamente onde. Trazem sempre um arsenal de
chavões, frases feitas, palavras de ordem, extraídos do lugar comum
propagado pela mídia. Quando questionados, costumam assumir uma
postura ofensiva, como se as verdades mais universais tivessem sido
feridas. Retrucam com o mesmo repertório de sempre, como se a
repetição pudesse conferir o estatuto de verdade às próprias opiniões.
O mais divertido é ver o susto que tomam quando percebem a fragilidade
dessas opiniões, quando confrontados com dados irrefutáveis... Abandonam
o debate como crianças emburradas que, quando perdem o jogo, atiram o
tabuleiro no chão. Fica evidente que, para os "sem noção", o ato de
pensar, raciocinar e refletir é ainda extremamente inusual e, por isso,
doloroso. Em razão disso, preferem terceirizar, abdicando do
exercício daquilo que, desde Sócrates e Platão, é o que nos constitui
como seres humanos. O resultado é o mal banal de que fala Hannah
Arendt: esse fungo viscoso e rasteiro que se prolifera insidiosamente
pelas redes sociais..."
Adriana Romeiro
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