"As paisagens sublimes, através de sua grandeza e força, desempenham
um papel simbólico em nos fazer aceitar, sem amargor nem queixas, os
obstáculos que não conseguimos superar e os acontecimentos que não
entendemos. Como bem sabia o Antigo Testamento, pode ser proveitoso
armazenar dados relativos à pequenez da humanidade junto aos elementos
da natureza que fisicamente a superam – as montanhas, o cinturão da
terra, os desertos.
Se o mundo é injusto ou está além de nosso entendimento,
os lugares sublimes sugerem que não surpreende que as coisas sejam
assim. Somos joguetes das forças que criaram os oceanos e moldaram as
montanhas. Lugares sublimes nos levam gentilmente a reconhecer as
limitações que, de outra forma, poderiam nos causar ansiedade ou raiva
no curso comum dos acontecimentos. Não é apenas a natureza que nos
desafia. A vida humana não é menos devastadora, mas são os vastos
espaços naturais que talvez nos ofereçam o melhor e mais respeitoso
lembrete de tudo o que nos transcende. Se passarmos algum tempo com
eles, talvez nos ajudem a aceitar com mais elegância os grandes e
inconcebíveis acontecimentos que molestam nossa vida e nos retornarão,
inevitavelmente, ao pó."
Alain de Botton (1969-). A arte de viajar. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012, p. 175
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