"A própria nação, com todas as suas ditas melhorias internas, que,
aliás, são todas externas e superficiais, é uma instituição simplesmente
tão pesada e hipertrofiada, tão entulhada de coisas e tropeçando na
armadilha de seus bens, tão estragada pelo luxo e pelo esbanjamento, por
falta de cálculo e de um objetivo digno, quanto os milhões de lares que
existem na Terra; e o único remédio para isso, em ambos os casos, é uma
economia rigorosa, uma simplicidade de vida inflexível e
mais do que espartana, e a elevação de propósitos. Ela vive rápido
demais. Os homens pensam que é essencial que a Nação tenha comércio,
exporte gelo, fale por telégrafo, ande a 50 quilômetros por hora, sem
qualquer hesitação [...]; já se devemos viver como símios ou como
homens, é uma questão um pouco mais incerta. Pois, se não trazemos
dormentes, se não forjamos trilhos, dedicando dias e noites a esse
trabalho, mas ficamos consertando nossas vidas para melhorá-las, quem
construirá as ferrovias? E se as ferrovias não forem construídas, como
chegaremos ao céu em tempo? Mas, se ficarmos em casa e cuidarmos de
nossos afazeres, quem vai querer ferrovias? Nós não passamos nas
ferrovias; elas é que passam sobre nós."
Henry David Thoreau (1817-1862). Walden (1854). Porto Alegre: L&PM, 2014, p. 96-7
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