sexta-feira, 6 de março de 2015

Uma ideia a cada sessenta segundos



"Depois da fase inicial tipo hamster-alucinado-dentro-do-cérebro do começo da Abstinência e da desintoxicação, Bruce Green agora voltou a seu estado cerebral psicorreprimido normal em que tem cerca de uma ideia plenamente desenvolvida a cada sessenta segundos, e só uma de cada vez, uma ideia, cada uma delas se materializando totalmente desenvolvida e ficando ali paradinha e aí sumindo como num lânguido monitor de cristal líquido. O conselheiro dele na Ennet, o extremamente ríspido Calvin T., reclama que ficar ouvindo o Green é como ouvir uma torneira que pinga muito lentamente. O resumo da ópera dele é que Green não parece sereno ou desconectado da realidade mas totalmente desligado, desassociado, e Calvin T. tenta semanalmente fazer Green se ligar deixando ele puto."

David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 595

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