sexta-feira, 13 de março de 2015

A queda



"A pessoa dita 'psicoticamente deprimida' que tenta se matar não o faz por entre aspas 'desesperança' ou por qualquer convicção abstrata de que os ativos e os débitos da vida não batem. E certamente não porque a morte pareça subitamente atraente. A pessoa em que a agonia d''Aquilo' atinge um certo nível insustentável vai se matar exatamente como uma pessoa encurralada vai acabar pulando da janela de um arranha-céu em chamas. Não se iluda sobre as pessoas que pulam de janelas em chamas. O pavor que elas têm de cair de grandes alturas ainda é tão grande quanto seria para você ou para mim ali parados especulativamente na mesma janela só dando uma olhada na vista; ou seja, o medo de cair é uma constante. A variável aqui é o outro terror, as chamas do incêndio: quando as chamas chegam perto demais, cair para a morte se torna um terror algo menos terrível que o outro. Não é desejar a queda; é o pavor das chamas. No entanto ninguém que esteja lá na calçada, olhando para cima e gritando 'Não faça isso!' e 'Força!' entende o salto. No fundo. Você teria que ter estado pessoalmente acuado e sentindo as chamas para entender de verdade um terror bem maior que a queda."

David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 712

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