"Eu forjei elaborados extratos bancários pra mostrar pro clube no
banco de reservas. Fiquei mais loquaz e mais imperioso com eles. Nenhum
dos caras pensou em me questionar o pincel atômico roxo com que os
extratos vinham escritos. Eu não estava lidando com gigantes
intelectuais aqui, eu sabia. Eles eram só malícia e músculos, a fina
flor da ralé da escola. E eu mandava geral. Vassalos. Eles confiavam
totalmente em mim, e no talento retórico. Pensando bem eles
provavelmente não conseguiam nem
imaginar que um aluno sensato da terceira série, de oclinhos e gravata,
ia tentar passar a perna neles, dadas as consequências inevitavelmente
violentas. Um aluninho 'sensato' de terceira série. Mas eu não era mais
um aluninho sensato de terceira série. Eu vivia só pra alimentar aquela
coisa negra da minha personalidade, que me dizia que toda e qualquer
consequência poderia ser evitada pelo meu dom e pela minha aura pessoal
grandiosa."
David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 830
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