sexta-feira, 20 de março de 2015

aquela coisa negra da minha personalidade



"Eu forjei elaborados extratos bancários pra mostrar pro clube no banco de reservas. Fiquei mais loquaz e mais imperioso com eles. Nenhum dos caras pensou em me questionar o pincel atômico roxo com que os extratos vinham escritos. Eu não estava lidando com gigantes intelectuais aqui, eu sabia. Eles eram só malícia e músculos, a fina flor da ralé da escola. E eu mandava geral. Vassalos. Eles confiavam totalmente em mim, e no talento retórico. Pensando bem eles provavelmente não conseguiam nem imaginar que um aluno sensato da terceira série, de oclinhos e gravata, ia tentar passar a perna neles, dadas as consequências inevitavelmente violentas. Um aluninho 'sensato' de terceira série. Mas eu não era mais um aluninho sensato de terceira série. Eu vivia só pra alimentar aquela coisa negra da minha personalidade, que me dizia que toda e qualquer consequência poderia ser evitada pelo meu dom e pela minha aura pessoal grandiosa."

David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 830

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