"Randy Lenz descobriu que se conseguir chegar perto o bastante de um
gato urbano com um pouco de atum estendido na mão ele consegue meter o
saco por cima do bicho e catar aquilo tudo por baixo para o gato ficar
no ar e no fundo do saco, e aí conseguia amarrar bem direitinho o saco
com o araminho de torcer que vinha junto com cada saco. Ele podia
colocar o saco fechado perto do muro ou cerca ou da lixeira mais
setentrionais da vizinhança e acender um careta e se agachar perto do
muro para ficar assistindo à variedade de formas mutáveis que o saco
assumia enquanto o gato agitado ia ficando com menos ar. As formas
ficavam cada vez mais violentas e retorcidas e em-pleno-ar com a
passagem de um minuto. Depois que ele parava de assumir formas Lenz
punha um dedo salivado na ponta da bituca para guardar o resto para mais
tarde, levantava, soltava o araminho, olhava para dentro do saco e
dizia: 'Isso'. O 'Isso' acabou se revelando crucial para a sensação de
estilhaçamento, resolução e finalização de problemas de fúria impotente e
medo ineficaz que tipo iam crescendo em Lenz o dia inteiro por ficar
preso nas porções nordeste de uma casa de recuperação miserável o dia
inteiro com a vida em risco, Lenz se sentia."
David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 553
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