quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Perda

"Gately vive sentindo uma terrível noção de perda, narcoticamente falando, de manhã, ainda, mesmo depois de tanto tempo limpo. O padrinho dele lá no Grupo Bandeira Branca diz que tem gente que nunca se recupera da perda daquilo que eles achavam que era o seu único melhor amigo e amante; eles simplesmente têm que rezar diariamente pedindo aceitação e colhões de aço pra seguir adiante e passar pela dor e pela perda, pra esperar até que o tempo endureça bem a casca da ferida. O padrinho, Francis Furibundo G., não enche nem por um átimo o saco de Gately por ele sentir uns sentimentos negativos sobre isso tudo: pelo contrário, ele elogia Gately pela sua sinceridade ao desmontar e chorar que nem um bebê e falar tudo numa manhã bem cedo no telefone público, da sensação de perda. É um mito isso de que ninguém sente falta. Da Substância particular de cada um. Caralho, você não ia precisar de ajuda se não sentisse falta."

David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 280-1

Nenhum comentário: