"O Bandeira Branca é uma das reuniões do AA da região que a Ennet
exige que seus residentes frequentem. Você tem que ser visto numa
reunião do AA ou do NA todas as noites da semana ou tchau, sem mais. Um
funcionário da Casa tem que acompanhar os residentes quando eles vão às
reuniões determinadas, para eles poderem ser oficialmente vistos lá. Os
conselheiros dos residentes da Casa sugerem que eles sentem bem na
frente do salão onde possam ver os poros do nariz do orador e tentar
se Identificar em vez de Comparar. De novo, 'Identificação' significa
empatia. Identificar-se, a não ser que você esteja decidido a se
Comparar, não é uma coisa muito difícil, aqui. Porque se você senta bem
na frente e presta bastante atenção, todas as estórias de declínio,
queda e rendição dos oradores são essencialmente iguais, e iguais à sua:
prazer com a Substância, aí muito gradualmente menos prazer, aí um
prazer significativamente menor por causa dos pequenos apagões em que
você de repente acorda no meio da estrada andando a 145 Km/h acompanhado
de pessoas que não conhece, noites em que você acorda numa roupa de
cama estranha ao lado de alguém que nem se assemelha a qualquer espécie
conhecida de mamífero, apagões de três dias de que você sai e precisa
comprar um jornal até para saber em que dia está; sim aos poucos um
prazer cada vez menor mas com certa necessidade física da Substância
agora, em vez do antigo prazer voluntário; aí num dado momento de
repente simplesmente pouquíssimo prazer, combinado com uma terrível
necessidade cotidiana que te põe as mãos tremendo, aí o pavor, a
angústia, fobias irracionais, vagas lembranças de prazer que parecem
sirenes, problemas com vários tipos de autoridades, dores de cabeça de
agarrar os joelhos, leves convulsões e a litania do que o AA de Boston
chama de Perdas... (...) – aí mais Perdas, com a Substância parecendo
ser o único consolo para a dor das Perdas que se acumulam, e claro que
você fecha os olhos para o fato de que é a Substância que está causando
essas mesmas Perdas de que ela te consola –".
David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 355-6
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