"Tá mas só que como é que eu posso responder só sim ou não se eu
quero parar com a coca? Se eu acho que eu quero com certeza eu acho que
eu quero. Eu não tenho mais septo. A coca tipo dissolveu a porra do meu
septo. Ó. Dá pra ver algum septo quando eu ergo assim? Eu com certeza do
fundo do meu coração eu achei que eu queria parar e tal e coisa. Desde
isso do septo. Aí mas aí se eu queria parar esse tempo todo, por que é
que eu não consegui parar? Está vendo o que eu estou te dizendo?
Não é tudo uma questão de querer e coisa e tal? E tal e coisa? Como é
que pode isso de morar aqui e ir nas reuniões e tudo isso não me fazer
querer parar? Mas eu acho que eu já posso parar. Como é que eu ia estar
aqui se eu não quisesse parar? Eu estar aqui já não é uma prova que eu
quero parar? Mas aí então como é que pode que eu não consigo parar, se
eu quero parar, aí é que está."
David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p.185
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