"Molly Notkin vive se abrindo ao telefone com Joelle van Dyne sobre o
único e atormentado amor de toda a vida de Notkin até aqui, um
eroticamente circunscrito estudioso de G. W. Pabst da New York
University, torturado pela neurótica convicção de que há um número
finito de ereções possíveis no mundo num dado momento e de que a
tumescência dele representa p. ex. a detumescência de algum fazendeiro
de sorgo do Terceiro Mundo, quiçá mais merecedor ou torturado, ou coisa
assim, de modo que sempre que ele
tumesce ele sofre a mesma espécie de culpa que uma pessoinha doutorada
menos excentricamente torturada sofre diante da ideia de, digamos, usar
um casaco de pele de bebê-foca. Molly ainda pega o trem de alta
velocidade para visitá-lo a cada quinze dias, para estar ao lado dele
caso por algum acaso egoísta ele calhe de endurecer, o que gera nele
ondas negras de repulsa por si próprio e uma extrema carência de
compreensão e amor tolerante."
David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 227
Nenhum comentário:
Postar um comentário