quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Atormentado amor


"Molly Notkin vive se abrindo ao telefone com Joelle van Dyne sobre o único e atormentado amor de toda a vida de Notkin até aqui, um eroticamente circunscrito estudioso de G. W. Pabst da New York University, torturado pela neurótica convicção de que há um número finito de ereções possíveis no mundo num dado momento e de que a tumescência dele representa p. ex. a detumescência de algum fazendeiro de sorgo do Terceiro Mundo, quiçá mais merecedor ou torturado, ou coisa assim, de modo que sempre que ele tumesce ele sofre a mesma espécie de culpa que uma pessoinha doutorada menos excentricamente torturada sofre diante da ideia de, digamos, usar um casaco de pele de bebê-foca. Molly ainda pega o trem de alta velocidade para visitá-lo a cada quinze dias, para estar ao lado dele caso por algum acaso egoísta ele calhe de endurecer, o que gera nele ondas negras de repulsa por si próprio e uma extrema carência de compreensão e amor tolerante."

David Foster Wallace (1962-2008). Graça infinita (1996). São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p. 227

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