sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São quatro horas da madrugada com silêncio



"São quatro horas da madrugada com silêncio. Só agora estou ouvindo os sapos coaxarem. Já tomei café. Estou fumando. (...). Todos estão dormindo. Menos eu. Tem aqui uma ferradura para dar sorte. Os passarinhos com fome piando. Parece mentira de tão bom que está aqui. Tenho um livro de Simenon – sou doida por ele: o melhor é ler em francês, mas o que tenho aqui é português. Vou citar um trecho: 'Um largo feixe de luz atravessava o quarto, iluminando uma fina poeira, como se de repente se descobrisse a vida íntima do ar.' Não é bom?"

Clarice Lispector. A descoberta do mundo (crônicas de 1967 a 1973). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 686

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