sábado, 14 de setembro de 2013
Belo
"Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milênios.
E o risco brevíssimo – que foi? passou! – de tantas
estrelas cadentes
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia a dentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
– Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples."
Manuel Bandeira (1886-1968). Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005, p. 80
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário