terça-feira, 10 de setembro de 2013

Criança pobre


"Criança pobre
de pé no chão.
Suja, rasgada, despenteada.
Desmazelada.
Criada à toa, de roldão.
Cria de casebre,
enxerto de galpão.

Não faz anos.
Não tem bolo de velinhas.
Não tem Natal.
Não tem escola.
Não tem banheiro.
Não tem cuidados.
Não tem carinho.
Só tem milhões de vermes
de amarelão...

Assim vive um pedaço de tempo.
Depois, morre.
No cemitério da cidade,
a quadra de crianças
se enche logo
de comorozinhos
iguais, iguaisinhos –
de crianças pobres, desnutridas
(pasto de vermes na vida)
que vão morrendo
de desnutrição."

Cora Coralina (1889-1985). Meu Livro de Cordel. São Paulo: Global, 1987, p. 47-8

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