quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A glória e a queda de Morar


“Tu eras ágil, oh, Morar, como uma corça na colina, terrível como o meteoro a rasgar o céu. Tua cólera era uma tempestade, tua espada na batalha como um relâmpago na charneca. Tua voz assemelhava-se à torrente na floresta depois da chuva, ao trovão ribombando nas colinas distantes. Muitos caíram sob o teu braço, a chama da tua ira os consumia. Mas quando regressavas da guerra, como era pacífica a tua voz! A tua face era semelhante ao sol depois da borrasca, semelhante à lua na noite silenciosa. O teu peito era tranqüilo como o lago, quando o fragor do vento adormeceu.

Estreita é agora tua morada, sombria tua cidadela. Com três passos meço a tua cova, oh, tu, que antes eras tão grande! Quatro pedras cobertas de musgo são teu único monumento. Uma árvore desfolhada, as altas ervas que o vento inclina, indicam ao olhar do caçador o túmulo do poderoso Morar. Não tens mãe que chore por ti, nem amante que derrame lágrimas de amor por tua causa. Morta está aquela que te deu a vida. Tombou a filha de Morglan.

Quem é que vem ali, caído sobre o cajado? Quem é ele, esse homem cuja cabeça é branca de velhice e cujos olhos estão vermelhos de lágrimas? É teu pai, oh, Morar! O pai de nenhum filho, exceto de ti. Ele ouviu falar da tua valentia no combate, dos inimigos caídos sob teus golpes. Ele soube da glória de Morar! Ah! Mas nada a respeito de sua ferida! Chora, pai de Morar! Chora! Mas o teu filho não te escuta. Profundo é o sono dos mortos, fundo seu travesseiro de pó. Nunca mais ouvirá a tua voz, não despertará ao teu chamado. Oh! Quando chegará a manhã ao túmulo, para enfim dizer àquele que dorme: Acorda!

Adeus, oh, mais nobre dos homens, conquistador das batalhas! Mas nunca mais te verá o campo de guerra, nunca mais a floresta sombria resplandecerá ao reflexo do teu aço. Não deixaste nenhum filho, mas os cantos manterão vivo o teu nome. Tempos futuros ouvirão falar de ti, conhecerão a glória e a queda de Morar!”

Canções de Ossian (século III d.C.). Citado por GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther (1774). Porto Alegre: L&PM, 2010, pp. 169-171

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