“Tu eras ágil, oh, Morar, como
uma corça na colina, terrível como o meteoro a rasgar o céu. Tua cólera era uma
tempestade, tua espada na batalha como um relâmpago na charneca. Tua voz
assemelhava-se à torrente na floresta depois da chuva, ao trovão ribombando nas
colinas distantes. Muitos caíram sob o teu braço, a chama da tua ira os
consumia. Mas quando regressavas da guerra, como era pacífica a tua voz! A tua
face era semelhante ao sol depois da borrasca, semelhante à lua na noite
silenciosa. O teu peito era tranqüilo como o lago, quando o fragor do vento
adormeceu.
Estreita é agora tua morada,
sombria tua cidadela. Com três passos meço a tua cova, oh, tu, que antes eras tão
grande! Quatro pedras cobertas de musgo são teu único monumento. Uma árvore
desfolhada, as altas ervas que o vento inclina, indicam ao olhar do caçador o túmulo
do poderoso Morar. Não tens mãe que chore por ti, nem amante que derrame lágrimas
de amor por tua causa. Morta está aquela que te deu a vida. Tombou a filha de
Morglan.
Quem é que vem ali, caído sobre o
cajado? Quem é ele, esse homem cuja cabeça é branca de velhice e cujos olhos
estão vermelhos de lágrimas? É teu pai, oh, Morar! O pai de nenhum filho,
exceto de ti. Ele ouviu falar da tua valentia no combate, dos inimigos caídos
sob teus golpes. Ele soube da glória de Morar! Ah! Mas nada a respeito de sua
ferida! Chora, pai de Morar! Chora! Mas o teu filho não te escuta. Profundo é o
sono dos mortos, fundo seu travesseiro de pó. Nunca mais ouvirá a tua voz, não
despertará ao teu chamado. Oh! Quando chegará a manhã ao túmulo, para enfim
dizer àquele que dorme: Acorda!
Adeus, oh, mais nobre dos homens,
conquistador das batalhas! Mas nunca mais te verá o campo de guerra, nunca mais
a floresta sombria resplandecerá ao reflexo do teu aço. Não deixaste nenhum
filho, mas os cantos manterão vivo o teu nome. Tempos futuros ouvirão falar de
ti, conhecerão a glória e a queda de Morar!”
Canções de Ossian (século III d.C.). Citado por GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther (1774). Porto Alegre: L&PM, 2010, pp. 169-171
Canções de Ossian (século III d.C.). Citado por GOETHE, Johann Wolfgang von. Os sofrimentos do jovem Werther (1774). Porto Alegre: L&PM, 2010, pp. 169-171
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