domingo, 29 de setembro de 2013

Nem tudo que tentei perdi



"Nem tudo que tentei perdi. Restou 
a intenção de ser alguém ou algo
que não se pode ser, mas só ter sido;
restou a tentação do nada, nunca
tão forte que vencesse esse meu medo
que é a coisa mais honesta que há em mim.
Sobrou também o hábito vadio
de me virar do avesso e esmiuçar
as emoções como quem espreme espinhas.
Mas nada disso dói; a dor é um ácido
que ao mesmo tempo que corrói consola,
é uma coceira que vem lá de dentro
e me destrói sem dignidade alguma."

Paulo Henriques Britto. Mínima lírica. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013

Nenhum comentário: